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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos


Segunda-feira, 16.06.14

15 junho 2014

 

Podia escrever amanhã, se calhar até devia. Mas sei verdadeiramente que não seria a mesma coisa. A razão pela qual algumas datas são especiais na nossa vida é porque as tornamos especiais. No dia em que as tornarmos banais, perderão esse estatuto de importância e, como alguns fazem, os dias tornar-se-ão mais iguais do que diferentes e a vida vivida assim torna-se, a cada dia, um pouco mais indiferente.

 

Não é a vida que quero para mim e não é a vida que quero para os meus. É por isso que cultivo datas, rituais, manias parvas de coisas que fazemos juntos. São actos que se repetem mas que não são iguais, sobretudo quando olhamos para cada um deles como único – mesmo já sabendo que vai acontecer. A vida vivida assim exige bastante de nós e torna-nos, ao mesmo tempo, exigentes e condescendentes com aqueles que partilham connosco esse calendário de datas únicas. São os nossos cúmplices, parceiros, irmãos. São pesos de medida variável que como corpos celestes em órbitra de um qualquer astro se auto-regulam em função de da posição relativa de cada um.

No fundo, é uma equação em que as variáveis estão todas lá e que mesmo quando a solução parece impossível, na realidade apenas precisa de mais contas e trabalho. E vale sempre a pena esse esforço – sentimo-nos melhores pessoas, mais capazes, mais inteligentes, mais sensíveis, mais despertos, mais … humanos porque lá chegámos.

 

Viver a vida desta forma é uma decisão.  Uma decisão tomada de forma mais ou menos consciente, mas sempre uma decisão. O rumo natural da vida foi durante demasiado tempo outro. Havia um intervalo de tempo em que as pessoas faziam coisas, iam a sítios, conheciam pessoas e ganhavam amigos e outro em que viviam. Viver era uma espécie de sinónimo de ‘ir andando’”. E, com o tempo, passava a ser uma espécie de “ir vivendo”.

 

Não consigo avaliar com rigor e conhecimento real como foi que aconteceu com as gerações antes da minha. Não vou por isso embarcar no chavão de que ‘antigamente’ todas as pessoas viviam assim e que um dia apareceu um conjunto de pessoas muito diferentes que mudou as regras. Talvez todas as pessoas tenham pensado um dia que não se iriam tornar pessoas que ‘vão andando’. Talvez em todas as gerações apenas algumas consigam. Não sei. Não tenho essas certezas.

 

Mas sei que prometi a mim mesma que não iria viver a vida assim. Que não deixaria que os dias se tornassem indiferentes. Que não desempenharia funções em automático – porque é suposto que assim seja. E, nesta decisão consciente, não estive sozinha. Tem sido uma decisão partilhada com um conjunto de pessoas com quem partilho uma cumplicidade única. E tenho tido a felicidade de ver esse grupo crescer, renovar-se, resistir, melhorar, porque quem resiste melhora.

 

Ontem o meu filho fez 18 anos. Todos os anos, o 15 de junho é uma data única. Este ano era ainda mais única, e todos vocês, pessoas da minha vida, o sabiam, sem que tivesse de o explicar. Sim, 18 anos, a maioridade, o fim de um ciclo, o início de outro, votar, tirar a carta, ir para a universidade, ser responsável pelos seus actos, poder ir preso (!), ter as vacinas em dia, tudo isso são convenções sociais. Sim, nas sociedades antigas tudo acontecia mais cedo e nalgumas sociedades contemporâneas, tudo acontece  mais tarde.

E, ainda assim, são 18 anos. Faz-nos bem definir intervalos de tempo, faz-nos bem olhar para o tempo que passou, faz-nos bem imaginar o tempo que virá.

Nestes 18 anos, o melhor que fiz foi criar um filho. Aliás, em todos os meus anos, o melhor que tenho feito é criar os meus dois filhos e os meus sobrinhos. Nada me deixa mais feliz do que saber que o mundo está melhor por causa deles e que o mundo tem tudo para ficar ainda melhor por causa deles. Ser parte disso é a maior aventura da vida. E viver essa aventura com as pessoas da minha vida é um verdadeiro tesouro.

 

O Miguel fez 18 anos rodeado de todos aqueles que o acompanham desde que soubemos que existia. Os mesmos que lhe compraram roupa tamanho zero, que alimentaram a mãe a Soleros de manga durante a gravidez, que discutiram nomes de bebé, que fizeram apostas sobre a data de nascimento, que se debateram pelo cartão de sócio do clube de futebol(foi mal perdida esta, da minha parte!). Estavam na maternidade quando nasceu, telefonaram uns aos outros durante a noite a manhã, encheram a casa de flores, de baby things e sobretudo de um carinho único. Estão sempre lá, nas dores de ouvidos e na varicela, no torneio de ténis e na festa da escola, na praia, nas viagens, nos dias em que não acontece nada de extraordinário. Estão sempre lá mesmo quando a vida nos puxa em sentidos opostos ou quando temos de contornar uma curva no quadrado para voltarmos a encontrar o nosso centro.

 

Hoje estivemos todos juntos numa festa perfeita, imaginada e realizada do princípio ao fim por pessoas que constroem todos os anos um calendário comum.

É isto que nos permite dizer ‘you are my person’ (obrigada a quem de direito).

‘O melhor do dia foi estarmos todos juntos’. Disse o Miguel que acabou de fazer 18 anos. O melhor do dia é que continuamos a estar todos juntos e isso dá-nos qualquer coisa que faz muito sentido.

Obrigada.

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por sparks às 02:03

Quinta-feira, 10.04.14

Aos encontrões com a vida

Não sei muito bem como materializar em palavras algumas emoções dos últimos dias. Não sei se emoções é sequer a melhor forma de designar o que me tem passado pelos olhos, pela cabeça e muito pelo coração.

Nos últimos dias, várias histórias de pessoas que conheço e gosto vieram de encontrão ter comigo. Pessoas boas, pessoas que têm feito coisas boas, e que estão em profundo sofrimento. Neste mesmo intervalo de dias, por razões que hoje não consigo escalpelizar, eu própria me tenho dado valentes encontrões, por desilusão com terceiros, por esperas longas demais, por equações que não se resolvem e que já deviam ter um resultado certo.

É certamente uma casualidade.

Mas o que senti nestes dias foi uma espécie de mal de vida onde devia estar bem. Um mal que começa demasiadas vezes porque algumas empresas estão ou são sítios pouco recomendáveis, porque as pessoas nessas empresas ou baixam os braços ou se tornam pouco recomendáveis (e sim, acredito que há uma terceira via nisto tudo) e porque a subjugação económica em prol da renda, da escola, da conta de electricidade e do supermercado rapidamente galopa para um sentimento de perda, de dignidade esventrada, de não retorno.

 

A par com tudo isso, há ali um mundo ao lado. De pessoas que se dão bem, que se vestem bem, que estão impecavelmente cuidadas, que falam sem nunca perder controlo. Que não engordam porque fat is the new looser (sério, vocês já repararam como a magreza se tornou símbolo de sucesso? com honrosas excepções, em que 'fat' é simplesmente uma questão de estilo). Recordo-me de um comentário de um gestor, daqueles cheios de medalhas e taças, que dizia o seguinte sobre a forma física: 'se não controlas o teu corpo, como queres controlar o resto?'. A magreza é muito mais que um tema de moda, beleza, saúde - é um sinal exterior de poder.

 

Não consegui ainda processar estas coisas todas. Estou demasiado preocupada com as histórias de pessoas que gosto e que estão aos encontrões com a vida, demasiado triste por me sentir impotente e demasiado irritada para me conformar.

 

 

 

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por sparks às 01:00

Quinta-feira, 20.02.14

É a lealdade, estúpido! a estúpida da lealdade

A arte imita a vida, a vida imita a arte, and this goes on, and on, and on.

Em certos dias, estas  evidências esfregam-se nos nossos olhos, zangam-nos com o mundo, com os outros, connosco e lá ficam em suspenso para nos reconciliarem. No minuto seguinte, na hora seguinte, no depois seguinte.

Ter uma série de culto é uma espécie de mania. Já é assim há muitos anos e o facto de hoje poder ver qualquer série a qualquer hora, vários episódios seguidos até à insanidade, não mudou em nada esta mania. Gosto de ver um episódio de cada vez da série que, a cada tempo, escolho para ser a versão TV do livro de cabeceira. Gosto de saborear um episódio de cada vez e de ficar a pensar no episódio do dia seguinte. Já fui fã das séries de culto que realmente fica bem dizer que somos fãs em público e já me deliciei dia após dia com verdadeiras soap às quais os connaisseurs torciam o nariz. Nunca me incomodou. É uma mania, um vício, um ritual, o que lhe queiram chamar. E da mesma forma que ninguém deixa de ser nosso amigo porque temos uns quilos a mais, uma borbulha nojenta na testa ou um casaco de gosto duvidoso, as séries já estão nesse saco de idiossincrasias.

 

Tudo isto para chegar aqui ao ponto onde hoje queria mesmo chegar. A minha série do momento chama-se The Good Wife e vai na quinta temporada. Comecei lançadíssima na primeira, vi até meio da segunda, interrompi na terceira, retomei na quarta e estou imparável desde então. É uma série sobre pessoas que vivem acima das minhas possibilidades, advogados e políticos na sua maioria. É uma série de 'ricos' cuja acção tem como palco central um escritório de advogados cuja quota de entrada como sócio é de 600 mil dólares. Mas é também uma série sobre mães e filhos, mulheres, mães e sogras, jovens aspirantes na máquina da justiça, alguns bandidos oficiais e alguns bandidos não assumidos. E é uma série que entra muito bem no território das empresas, nomeadamente de startups, e que explora de forma natural e não exibicionista a forma natural e não exibicionista como a tecnologia entrou na vida de todos nós. Do mais básico das redes sociais aos temas de espionagem da NSA (retratados da forma mais naturalmente coloquial).

 

Gosto de todas as derivadas, da política, da justiça, das disputas de negócios, das causas improváveis sobre direitos e deveres. Gosto da paixão e da tensão que marca cada episódio. Gosto do facto de estarem dois adolescentes no meio da história. Gosto especialmente da forma como a série entra pelas empresas dentro, desde a empresa-escritório de advogados que serve de âncora à história, a tantas outras que se vão cruzando de episódio em episódio. Em The Good Wife as empresas são vistas pela lente única das pessoas que as protagonizam, que lhes dão corpo. O chefe, o estagiário, o sócio, a secretária, o financiador. E as empresas são esse puzzle complicado constituído por pessoas muito diferentes, com expectativas diferentes, passados diferentes que se encontram num mesmo momento presente. É assim ali e é assim cá fora, quando me levanto do sofá e volto à vidinha.

 

Acredito que foi por isso que os episódios dos últimos dias me provocaram uma sentimento tão real. Indignei-me - a sério, argumentei - a sério, disse 'toma' mental - a sério (e outras coisas).

Nestes dias, o tema de The Good Wife foi desapontamento, traição e deslealdade. A personagem central - a Good Wife - sai da firma em que recuperou a sua carreira profissional e de que se tornou sócia, em ambiente de conspiração com os sócios e colegas com quem trabalhou durante anos. Conspiração significa roubo de informação, aliciamento de clientes, jogo duplo. Sem se trair, sem quase se melindrar.

Os 'conspiradores' sentem-se menosprezados, usados e não reconhecidos, e por acreditarem no seu talento querem a sua própria ribalta. Tudo plausível e legítimo.E, no entanto, tudo desprezível. Porque não há grande causa que se compadeça com uma forma de agir miserável. E quando ao vingarmos o erro de alguém nivelamos abaixo desse erro, é mesmo uma causa perdida.

 

Voltando à vida real. De pessoas que trabalham umas com as outras, às vezes são chefes, às vezes são patrões, na maioria dos casos são índios e empregados. Todos nós passamos por estes status e estados de alma. Trabalhamos que nem uns cães e alguém se esqueceu de um obrigado. Fazemos melhor que outros mas temos menos habilidade política, menos trânsito social ou na suprema das injustiças menos apelidos para quem tem esse critério como referência. Já todos passámos por isso. Começa logo cedo na escola e continua vida fora. Já fomos injustiçados, preteridos, obliterados, simplesmente esquecidos. E não somos nem santos nem mártires, somos pessoas normais que ficam lixadas como as pessoas normais ficam quando as coisas não correm bem.

 

Mas há momentos, alguns momentos muito bem definidos na linha do tempo, em que somos como que sorteados por uma ordem qualquer e temos de tomar  uma posição, decidir um caminho, assumir o que somos lá no fundinho.

E nesses momentos não somos todos iguais. Uns tornam-se tão insuportáveis como os conspiradores da série, outros são igualmente insuportáveis mas podemos nunca saber (o que é pior) e outros ... outros são mesmo pessoas normais, pessoas-pessoas. Que se debatem, que têm ataques de fúria, de depressão, de ansiedade, mas que quando são colocadas na ponta da faca conseguem não se esquecer do que é isso de fazer as coisas bem.

Não se armar em fortalhaço quando se está em grupo ou em humilde quando se está a solo, é fazer as coisas bem. Discordar ou dizer coisas menos simpáticas directamente aos visados é fazer as coisas bem. Não manipular pessoas que gostam de nós e que confiam em nós é fazer as coisas bem. Não tomar como 'bom' apenas aquilo que é igual a nós é fazer as coisas bem. E há dezenas, centenas de outras variáveis que não vêm nem nos manuais de gestão, nem noutros manuais académicos, nem na catequese, nem nos códigos de ética. São straight from de heart. Aprendem-se connosco, aprendem-se em casa, aprendem-se  vivendo uns com os outros.

 

Hoje uma pessoa que trabalha comigo há dois anos assumiu novas funções. Vai ter uma equipa para gerir, objectivos para alcançar, expectativas de todos para nivelar. Na conversa de preparação para as novas funções, depois de discutidos os detalhes operacionais, disse-lhe que aquilo em que devia colocar mais esforço era em conhecer as pessoas, em perceber quem são, mais do que aquilo que fazem. Conhecer as pessoas e perceber se a lealdade está lá, se a honestidade está lá, se a humanidade está lá. Porque se não estiver, tudo o resto pode valer muito pouco.

Já tive pessoas que trabalham comigo a sofrer por estarem há mais de uma tarde sem me dizer que se vão embora porque tiveram uma proposta de trabalho. E já tive pessoas que à minha frente juram uma dedicação ímpar, e ainda as sílabas não fizeram a digestão e já são cozinhadas para um propósito inverso.

 

A vida é muito melhor quando temos as pessoas boas por perto. É tão banal isto quanto ver séries no sofá e falar de personagens como se fossem 'pessoas a sério' mas se não fossem as coisas banais, a vida era seriamente insuportável.

 

Até breve, sejam leais e protejam os vossos ficheiros com passwords : )

 

P.S. - Não disse ainda mas o episódio que deu origem a esta conversa toda é simplesmente fenomenal!

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por sparks às 01:35

Segunda-feira, 12.08.13

Uma história exemplar ou porque as más pessoas não são bons clientes

 

 

Não é tudo sacanice e hipocrisia. Aliás, a maioria de nós não vive assim. Imergir num mundo de pessoas que confundem o lugar que ocupam, e o poder que lhes confere, com o que são e o que os outros devem ser em sua reverência é uma terrível infelicidade. Para o próprio e para aqueles que o rodeiam.

Lembro a história de um amigo com uma empresa que começa finalmente a ser bem sucedida ao fim de quase 6 anos de sangue, suor e lágrimas. Após uma reunião numa das nossas grandes empresas, o novo responsável pelo departamento com que trabalha diz-lhe que resolveram internalizar a solução que a empresa desse meu amigo desenvolveu para um problema que a "grande empresa", sua cliente, tinha. O meu amigo acha que não percebeu. "Internalizar como?". A resposta: "tem de explicar às 'minhas pessoas' como vão fazer o que a sua empresa faz". O meu amigo é um tipo bem educado. Não lhe chamou palhaço à frente da equipa toda, não lhe deu um soco e até continuou a conversar com ele. Disse-lhe que depois falariam. Como é óbvio não vai "dar" a solução que ele próprio criou à empresa porque "vão internalizar". Se vão internalizar, pagam a solução. Pagam bem, para deixar de pagar o serviço. Na vida real, esta lógica da batata não é sempre assim. Geralmente não é assim com os mesmos ou os seus delegados. Informa-se o mais pequeno-fraco-indefeso de uma decisão que simplesmente o lixa-expolia-prejudica. No fim de tudo, se alguém levantar alguma questão diz-se "não tem tema".

O meu amigo saiu da reunião a cerrar os dentes. Ou como dizia o Nicolau Santos "a sentir uma raiva a crescer nos dedos". Não vai dar a solução, mas sabe que vai ter de negociar com um tipo sem princípios, sem ética, sem vergonha. Há vários destes. Alguns são premiados, levam palmadas nas costas e são apontados como exemplo pelos respectivos chefes. Chama-se, portuguesmente, chica-espertice (ora aí está, a palavrinha mágica). E o pior é que até as vítimas dos chicos espertos, lhes reconhecem o valor da chica espertice. Se conseguiu lixar o do lado, ganhou. Se ganhou, é melhor que o tipo que se porta bem. E infelizmente habituámo-nos a pensar que este país, este mundo não é para os tipos que se portam bem.

Esta história tem uma moral com a qual me identifico a 300%. Dizia-me o meu amigo em jeito de conclusão: vou ter uma empresa realmente de sucesso quando não precisar de maus clientes, de más pessoas. Quando puder escolher os meus clientes. Acho que não há objectivo mais nobre para quem tem uma empresa do que poder escolher os seus clientes.

Vivas tu, amigo que aqui fica incógnito, e todos os que conseguirem lá chegar.

 

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por sparks às 22:49

Quarta-feira, 10.07.13

Este blog ia chamar-se O Mercador de Veneza

Este blog ia chamar-se O Mercador de Veneza. Porquê o Mercador de Veneza? Se quiserem mesmo saber podem ler uma explicação mais detalhada aqui, mas resume-se no essencial. Shakespeare sabia o que fazia. O Mercador é uma obra notável e "é uma comédia, é uma tragédia e no fim os bons ganham". Foi exactamente isto que eu disse a alguém que me perguntou porque gostava tanto da peça e do texto. É um bocadinho mais que isso, escarafuncha na natureza humana e por mais sofisticadas que as sociedades se tornem no fim do dia é tudo sobre pessoas. Sobre nós. Sobre a nossa natureza, a própria e a partilhada e isso fascina-me mais que tudo.

Então e do Mercador até X-Acto (não, não me apetece nada escrever Ato), como é? É simples. X-Acto chegou primeiro que O Mercador de Veneza. Chegou porque vivo rodeada de gente louca saudável e a frase (e o gesto) de cortar os pulsos ganhou uma normalidade ... normal. Um dia fui para casa a pensar nisso. E X-Acto pareceu-me bem, porque serve para cortar os pulsos mas pode ser bem mais que isso. Vá, um pouco de conversa do tipo 'criativo-intelectual'. Há o X. E o Acto. O X da questão. Os actos do nosso dia-a-dia de gente. O corte fino na realidade. O corte fino. E. claro, o X-acto propriamente dito.

O Pedro Neves que é o mago dos blogs do SAPO alinhou e preparou um design catita para o X e para o Acto. E depois entrei em processo de reflexão. Quero mesmo fazer um blog? E vai mesmo chamar-se assim? E X-Acto não é demasiado sangrento? Eu não sou assim tão de fazer sangue. As minhas amigas até me chamam de 'xanolítico' de vez em quando. Nessa dissertação passaram-se meses. O Mercador de Veneza tornou-se maravilhoso. Estava tudo lá. Era tão contemporâneo. Agiotas que querem a nossa carne para lhes salvar a alma. Não a alma, mas o ego. O ego e o resto. Mulheres inteligentes que encontram caminhos onde homens viam becos sem saída (não, também não sou feminista). E comecei por conta e risco a fazer um blog - oh traição - no wordpress chamado O Mercador de Veneza. Escrevi dezenas de textos entretanto. E um dia destes, há poucos dias, percebi que não queria estar presa à cosmética em que ameaçam tornar-se muitos blogs.

Quero escrever. Sobre pessoas. Pessoas em contextos que envolvem outras pessoas. Pessoas em contextos em que desempenham um papel (desempenhamos sempre papéis). Pessoas como nós ou o oposto de nós sobre as quais, por bons ou maus motivos, é preciso escrever. De volta à natureza humana e a essa coisa que somos sempre nós por trás dos grandes feitos, das grandes derrotas, dos poderosos movimentos de mudança. Somos nós. Humanos, frágeis, gigantes.

E isso não precisa de tanta reflexão quanto isso no que respeita ao nome do sítio onde vai acontecer essa escrita, essa reflexão, essa intimidade. É por aqui, virá quem quiser. X-Acto is just fine.

Encontramo-nos por aqui.

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por sparks às 11:47


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