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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos



Segunda-feira, 29.07.13

Alegrias e tristezas do trabalho

 

Hoje de manhã tive uma discussão feia com uma colega da qual gosto. Somos muito diferentes - em alguns casos diria diametralmente opostas - mas temos uma espantosa capacidade de nos entendermos em determinados territórios. Ela dirá de mim que tenho a mania de ser 'subtil', eu direi que ela é 'hard selling', os detractores de uma dirão que a inteligência requer (alguma) subtileza, os detractores de outra dirão que os tempos são de resultados rápidos. Todos terão alguma razão. Mas aquilo que importa nesta história é outra coisa.

 

Na semana passada, li sobre uma espécie, 'o profissional enraivecido'. Sempre em fúria, sempre em contra-relógio, sempre em estado de 'cobrador de fraque' face a um mundo incompetente para as suas ambições e provas dadas. Assustei-me deveras com o retrato. Este homem (ou mulher) está sempre à beira da crise cardíaca. Pior, coloca os outros à beira da crise cardíaca. Medo. Passou-me pela mente todos os profissionais enraivecidos que conheço. Passou-me pela mente as vezes em que fui uma profissional enraivecida (sim, também já fui).

 

O profissional enraivecido - desculpem gestores medalhados - traz pouco ou nada àqueles que lhe pagam o ordenado, àqueles que chefia. àqueles que negoceia. Faz muita espuma, como diz o meu espírito santo de orelha. Mas enxuta a espuma, resta muito pouco. Sobram décibeis a mais, uma gesticulação feroz e cansativa, uma expressão facial amarrotada ... e pouco mais. O profissional enraivecido é um cansaço. 

Mas, surpresa, o profissional enraivecido é uma espécie apreciada e até documentada nos perfis de recrutamento. Porque é agressivo. Porque é determinado. Porque não contemporiza com dias maus, sentimentos à flor da pele, ideias que não são números. 

 

Passamos dois terços do nosso dia a trabalhar. Estamos mais tempo 'na empresa' do que em casa, em família, ou simplesmente sós, connosco próprios. O 'trabalho' não pode ser um campo de batalha. O 'trabalho' tem de ser um espaço de criação, de cultivo, de resolução de problemas. Gastar o nosso tempo - e o dos outros - a esgrimir argumentos que deveriam estar no divã da psicanálise, na caixa do ansiolítico, no saco de boxe ou, se tudo tivesse corrido pelo melhor, lá atrás, na nossa infância e adolescência, é um enorme desperdício de vida.

 

A minha discussão de hoje de manhã acabou num amigável 'desculpa lá aquilo' ainda a tarde não tinha chegado ao fim. Um 'desculpa lá aquilo' simultâneo, mútuo, bem cimentado com um sorriso e uma careta daquelas que as miúdas fazem bem e até um aperto de mão 'à homem'. Ambas temos uma vida ali, conjunta, em que nos debatemos por objectivos comuns. E por isso ambas sabemos que, na realidade, se uma ganhar, ganham as duas. Ah, e ambas temos vida fora daquele sítio onde nos encontramos todos os dias para trabalhar num mesmo projecto. Parece-me que isso deve ajudar muito.

E agora vou ler mais umas páginas do meu livro de cabeceira. Alain de Botton e "As alegrias e tristezas do trabalho". Nem de propósito.

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por sparks às 21:46

Domingo, 28.07.13

"Mas o que é democracia? Onde todas as vozes contam?"

Volta e meia, acontece qualquer coisa e lá estou eu outra vez com a Hungria em frente do meu nariz, salvo seja. A primeira vez que isso aconteceu, foi há mais de um ano, ao ler uma reportagem no Público, assinada pela Clara Barata. Um trabalho que me fez viajar até à Hungria de Victor Orbán, um país assustadoramente semelhante ao que veria num filme antigo sobre os anos 30 em alguma Europa. A Clara é uma mente lúcida e das pessoas mais inteligentes que conheço e não duvido um minuto nem do que ela por lá viu, nem da sua análise com a informação que reuniu. O jornalismo tem de ser cada vez mais um exercício de contexto, de compreeensão, uma profissão de facilitadores entre a infomação desgrenhada e a essência dos temas que realmente nos devem importar. A Clara é uma jornalista dessa linhagem. Não encontro aqui a primeira reportagem que li dela sobre esta Hungria, mas em contrapartida encontrei uma outra que ainda não tinha lido: Heróis, anti-semitas e nazis: a história que os húngaros não conseguem ler.

 

Passaram-se uns meses e fui lendo mais umas coisas. O 1º ministro húngaro continuou na sua forma muito própria de democracia musculada (acho que lhe chamam assim, apesar de algumas fracas figuras no que toca ao músculo). Em Junho deste ano, o Parlamento Europeu aprovou um relatório elaborado pelo deputado português Rui Tavares em que se considera, pela primeira vez, que a forma como se vive na Hungria não é compatível com o artº 2 do Tratado da UE que exige que respeito pelos valores fundadores da União, entre os quais o respeito pela democracia e pelo Estado de Direito. Mais de um mês depois e por mera casualidade, chego a este texto na Visão, e fico curiosa de saber que mais se tem passado.

É aí que vou dar ao blog do Rui Tavares - onde encontro este comentário de um "combraguy" que diz ser húngaro:

 

Coimbraguy

Eu sendo húngaro, recuso absolutamente esta interferência com o meu país de origem. Em primeiro lugar: perguntem se faz favor qualquer pessoa da rua se ele se sente sob ditadura? Depois perguntem faz favor os ex-comunistas (agora “liberais”) que alimentam a má imagem da Hungria através da Fundação Táncsics, falando sobre assuntos que não tem nada a ver com nada. Há trés anos atrás ainda foi banido o uso da cruz durante o Natal pelo governo anterior (os liberais, ex-comunistas), e foi substituído por Menorás. O governo anterior admitidamente ganhou a eleição em 2006 por batota – eles não divulgaram a situação financeira da Hungria em tempos devidos, mentindo sobre os valores, depois ganharam e depois veio aquele discurso de Öszöd, onde o ex-primeiro ministro, Gyurcsány admitiu não ter feito grande coisa como PM. Bom, naquela altura ninguém levantou a sua voz da EU, porque o tal governo foi o amigo dos Banqueiros. Agora, este novo governo do Orbán pede bom senso de todo lado, incluindo o tribunal de constituição. Em retorno, a nossa défice baixou para ~2%. Qual é mais importante?
Ahh, democracia. Mas o que é democracia? Onda todas as vozes contam? Não, esse não existe. Não, porque não há informação verdadeira. Quem pode ainda acreditar num politico, num jornal? Sabemos que o certos membros do governo português atual e anterior bem com alguns banqueiros são corruptos. Numa democracia estes vão para o prisão. Como na Hungria. Em Portugal não. Então, resolve-se faz favor a democracia aqui em Portugal em primeiro lugar.

Pronto, ontem (03/julho/2013) foi realizado uma ação disciplinar contra o Sr PM Viktor Orbán e Hungria. E também foi recusado a entrada do presidente da Bolívia, Evo Moralesno espaço aéreo de Portugal: O rumor de que levaria Edward Snowden a bordo precipitou os acontecimentos. Ontem o Sr. José Manuel Barroso levantou a sua voz contra os EUA depois de ter escutado toda da Europa. O Edward Snowden contou tudo. Porque HÁ ainda um bocadinho de democracia no coração de certas pessoas. Portugal não permitiu a entrada da avião que do presidente da Bolívia porque podia ter transportado uma fatia de democracia. Ou seja, Portugal está contra a verdade, contra a opinião pública, concorda com as escutas, recusa ajudar os que defendem a democracia.

 

E, independentemente da veracidade factual, este coimbraguy fala de uma coisa que nos é mais confortável evitar, a cada dia, a cada 'desconforto'. Essa coisa chamada democracia, o que é na realidade, como está a ser realmente aplicada e que evolução podemos e devemos pensar de uma forma governo que nasceu na Grécia com contornos distintos dos de hoje (era uma Grécia com escravos e onde as mulheres não eram 'naturalmente' cidadãs, só oara estabelecer o perímetro).

Há democracia quando as elites se sucedem e a renovação dessas elites não é mais do que uma injecção de carga idêntica no sistema de partidos? Há democracia quando o Governo de Estado configura um acesso legitimado pelo voto aos bens de todos usados em proveito de alguns? Ou pior, o acesso à decisão legitimada pelo voto de colocar toda uma população a pagar os prejuízos de alguns? Há democracia quando manifestamente os 'spin doctors' e não os pensadores sociais, políticos e económicos ditam o rumo das decisões do país ao ritmo da abertura dos telejornais das 8 da noite? Há democracia, por último, quando sabemos, está estudado, não é mito, que muito é mais fácil conseguir de uma multidão uma decisão irracional e potencialmente perigosa do que de um indíviduo ou vários longe da turba? São questões com qualquer coisa de odiento, eu sei. Como já me perguntaram, em círculos mais fechados, 'mas queres o quê, decidir que uns podem votar e outros não?'. Não se trata disso. Também vejo muitos pais que não qualificam para o exercício da paternidade ou da maternidade, mas a biologia não lhes é limitada e seria desumano que fosse. Os resultados do exercício dessa biologia devem ser regulados, isso sim, para que situações em que crianças, ou mães, ou pais, ficam em risco sejam prevenidas ou rapidamente solucionadas. O Estado não é 'pai' ou 'mãe' - esse sim, mais um fantasma periogoso do passado da Europa que nos assombra em vários contextos. Mas a cidadania, como a biologia, não é apenas uma possibilidade ou um status quo. É uma responsabilidade e um estado em construção. Definitivamente tem de ser repensada, com outra exigência, sem medo de abrir a caixa de Pandora e debater como podemos melhorar, fazer evoluir, este regime político, sem dúvida imperfeito mas para o qual até aqui não encontrámos melhor e que é a democracia. Porque, definitivamente, esta 'democracia' começa a ficar muito perigosa e não há artigos fundadores que nos salvem se nos abstrairmos da realidade.


 

Há uma frase do coimbraguy, esse tipo invisível, que é particularmente inquietante e que nos deve fazer pensar:

"Mas o que é democracia? Onda todas as vozes contam? Não, esse não existe. Não, porque não há informação verdadeira. Quem pode ainda acreditar num politico, num jornal? Sabemos que o certos membros do governo português atual e anterior bem com alguns banqueiros são corruptos. Numa democracia estes vão para o prisão. Como na Hungria. Em Portugal não."

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por sparks às 10:07

Quinta-feira, 25.07.13

“The Thick of It” mostra a política executada por alarves.

 

Falha minha, ainda não vi qualquer episódio da série britânica "The Thick of It". Até que, neste fim de semana, o Pedro Mexia (avé Pedro Mexia) escreveu sobre esta mesma série no Expresso, num texto extraordinário intitulado 'A coisa pública'. Ao ler o texto e ao reconhecer cada parágrafo em outros tantos pedaços de realidade-real com que já me cruzei por aqui mesmo, terras de Portugal, foi totalmente irresistível vasculhar à procura do protagonista Malcolm e seus pares.

 

Encontrei, entre muitos outros, este vídeo numa peça da BBC -The Thick Of It: When life imitates sweary art. É majestoso. Compulsivamente cínico e verdadeiro. Tanto que é quase injusto sugerir-vos uma passagem em particular, ao minuto 1'20 quando os spin doctors, os magos da comunicação, discutem nomes para um futuro banco.

 

Mas antes leiam o Pedro Mexia. O texto não está online para todos, apenas para assinantes. Para quem não é assinante ou não terá acesso ao Expresso desta semana, deixo um excerto que diz quase tudo:

 

"(...) Malcolm é um homem furibundo, de quem todos têm medo, ‘an evil scotish guy’, ‘a bad Gandalf’, ‘um Malchiavelli’, ou, singelamente, ‘uma fornalha de merda’. É evidente que não há política sem retórica, especialmente em democracia, mas esta retórica é fétida, ainda que por vezes brilhante, e os mecanismos não são exactamente ‘democráticos’, mas mediáticos. É a percepção pública que interessa ao director de comunicações, não a verdade ou as políticas seguidas, muito menos as pessoas envolvidas. “Stuff happens”, como dizia Rumsfeld, e a função do spin doctor é mudar a natureza das ‘coisas’ que ‘acontecem’, quer dizer, a sua configuração mediática.

“Yes Minister” levava-nos a imaginar que a política democrática é de uma complexidade florentina ou mesmo bizantina, que é um jogo civilizado até à perversidade.

“The Thick of It” mostra a política executada por alarves. Gente infantil, insensível, frustrada, imbecil, que mente, ofende, trapaceia. Não são más pessoas, mas também não são boas. Vivem em ‘crise’ permanente, com gafes, fiascos, traições. E é sempre preciso encontrar culpados, em geral falsos culpados. "

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por sparks às 11:13

Quarta-feira, 24.07.13

“Uma rosa com outro nome realmente não cheira tão bem”

 

 

A história tem piada. The Cuckoo's Calling é um romance policial de Robert Galbraith. Teve excelentes críticas, mas vendas nem por isso. Apenas cerca de 1500 exemplares em quase três meses. Há cerca de duas semanas, tudo mudou. Um tweet de uma desconhecida entre tantos desconhecidos do Twitter transformou um livro discreto num best seller. A culpa foi de Judith Callegari. Na realidade, a culpa foi da melhor amiga de Judith Callegari, casada com Chris Gossage, advogado na firma londrina Russells. Reza assim pelo menos a história oficial de como, da noite para o dia, o policial de Robert Galbraith foi revelado ao mundo como o novo livro de J.K. Rowling, a consagrada autora de Harry Potter. A escritora milionária garantiu ter ficado mais que desapontada. Escrever sob psedónimo, afirmou, tinha lhe dado uma sensação única, libertadora. Os putativos leitores dos seus livros e demais curiosos ficaram eufóricos - tanto que a sua editora tratou rapidamente de uma nova edição de 300.000 exemplares. Os seus advogados, equipa a que pertence o autor da inconfidência conjugal, garantiram que nada disto fez parte de um plano de marketing. 


Mas a história tem piada também por outras razões.

“Podemos recusar uma proposta ou ideia que seja apresentada pela pessoa errada ou então seguir cegamente os conselhos de alguém com grande prestígio”. Os grandes manipuladores sabem (ou intuem) que é assim, tal qual Orin e Rom Brafman descrevem no livro "Irracional" de que já falei neste blog. É terrível estar nas mãos de um manipulador, mas a verdadeira questão de fundo é que a percepção governa o mundo. Há exemplos clássicos. Um clássico dos clássicos está ao nível do novo livro de Rowling. Joshua Bell, um dos maiores violinistas, foi um certo dia desafiado pelo Washington Post a tocar no Metro. E ali, no metro, foi apenas mais um a tocar por uns cobres, sem aplausos, vénias e bravos. Igualmente divertida é a história de Nathan Handwerker e dos seus cachorros quentes em Coney Island. Para vencer a concorrência, Nathan ofereceu cachorros mais baratos  - (10 cêntimos versus cinco cêntimos) - e ninguém comprava. Porquê? Porque as pessoas desconfiavam dos ingredientes. Algo devia estar errado, para ser mais barato. Nathan não desistiu e ofereceu pickles e cerveja sem álcool. Não resultou. A sorte de Nathan só mudou quando convidou os médicos do hospital em frente para experimentarem os cachorros, ficando a comê-los cá fora, de bata e estetoscópio colocado ...

 

Daqui para a frente, não deve ser difícil cada um desfiar o seu próprio rosário de falsos positivos. Gente que tem sucesso apenas porque, supostamente, já representa sucesso. Na forma inversa, temos aqueles cujas ideias originais, por serem verdadeiramente originais, sofrem até ao dia em que alguém com poder de decisão aceita o desafio de algo novo. Na era da inovação e do dito empreendedorismo, esta decisão pode ser surpreendentemente difícil. Lembro-me de uma das frases mais exemplares que ouvi sobre estas matérias, a propósito de um projecto que nunca tinha sido feito.

Pergunta quem decide: 'já alguém fez isso?'

Respondem os autores do projecto: 'não, ninguém, seremos absolutamente pioneiros.'

Decisão de quem decide: 'se ainda ninguém fez, é porque não deve valer a pena.'

 

Sobre isto, dizia Shakespeare, uma rosa com outro nome não cheiraria tão bem. Não vejo como se pode dizer melhor.

 

Nota de rodapé: Sou tentada a acreditar que Rowling está absolutamente inocente e que a manipulação, a existir, não é dela. Talvez não haja manipulação de todo e esta seja mesmo só uma história exemplar de como formamos opinião. Ou talvez seja só o meu lado sentimentalão a falar. Comecei a ler Harry Potter numa espécie de pacto de leitura com a minha amiga Helena, quando ainda só se ouvia falar do fenómeno 'Potter' fora de Portugal. Devorámos em contra-relógio o nº 1 da saga, num Verão a banhos no Algarve com crianças a tiracolo. O meu filho começou assim a ouvir falar daquele que seria durante anos o seu herói, a minha filha ouvia repetidamente que era parecida com a Hermione e o meu sobrinho até se deu ao luxo de partir a cabeça e fazer uma cicatriz à Potter. Há muita magia nisto tudo para não acreditar, pelo menos um pouquinho, no conto de fadas.

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por sparks às 23:03

Sábado, 20.07.13

"Adoro trabalhar com pessoas inteligentes"

Há temas que se atravessam no nosso caminho como aquelas músicas que não nos saem da cabeça. Esta semana, por várias razões, fui esbarrando com um destes casos. Em conversas, em decisões, em textos que li e até pelo facto de me ter cruzado, tardiamente, eu sei, mas ainda muito a tempo, com a ópera de Wagner, Die Meistersinger von Nürnberg(*).
Tem a ver com decisões estúpidas e não fundamentadas e a obediência cega a essas decisões. Tem a ver com a relação que os diferentes povos têm com a autoridade e com o poder - a nossa, a dos portugueses, não é especialmente boa (ou talvez deva dizer é especialmente boa), mas já volto a este ponto. Muitas das decisões estúpidas são tomadas pelos 'decisores' como se convenciona dizer. O tipo que manda, que tem a patente mais alta. Mas são executadas pelas chefias intermédias, os gestores que foram escolhidos para estar na linha da frente da execução. Nas empresas portuguesas, muitos destes gestores, senão a maioria, são hoje licenciados em Economia, Gestão, Engenharia, por aí fora, têm MBAs, alguns fizeram formação em escolas internacionais. Foram preparados para liderar. Supostamente.

 

Então por que razão alguns destes gestores mais se assemelham a cães amestrados? ou pior, nos casos mais radicais, àqueles cães que eram colocados na parte de trás do carro e que abanavam a cabeça de forma sincopada ao longo das viagens no carro do dono. Porque razão pessoas instruídas, que certamente tiveram algum professor extraordinário, que certamente leram, nem que por obrigação, algum livro revolucionário, que certamente participaram e participam em foruns onde gente expressa ideias novas, desafiantes, por vezes loucas, porque razão estas pessoas escolhem deliberadamente apenas obedecer, apenas executar?

 

Responder a esta pergunta sem ser de forma populista - 'querem é subir' ou 'é só graxa ao chefe' ou ainda 'são todos uns cagufas' - não é tarefa fácil. Mas, na realidade, é a única forma que me interessa, a outra pode ficar para as conversas de café.

 

Começando pelas empresas portuguesas, nomeadamente as maiores que pelo nível de amostragem constituem retratos do país que somos. O tema do mérito tem menos de 10 anos. E 10 anos não é nada. Depois houve algum azar nos timings, porque começou a falar-se de mérito mais ou menos ao mesmo tempo que a febre da gestão atacava todo o jovem universitário. E o jovem universitário da primeira década de 2000 já tinha pouco a ver com o gestor dos anos de ouro da década de 90. Mas, em tempos diferentes, queria repetir a história, subir rápido, ganhar muito, ser conhecido. Por isso, entraram aos molhos nas empresas, deslumbrados por se cruzarem nos elevadores com rostos que tinham visto na tv. Rostos de gestores 'geniais', os gestores dos grandes negócios (muitas vezes dos grandes monopólios) dos anos 90. Quando chegavam às empresas, geralmente nessa nova categoria de trainees, logo percebiam que o sucesso não estava logo ali ao virar da esquina, a chave do carro da empresa ia ser suada. Mas tinham uma meta. E a meta chamava-se ter sucesso e ter sucesso, na maior parte dos casos, significava e ainda significa ser chefe.

 

O que fazer para lá chegar? Passados os primeiros entusiasmos e até alguns rasgos rapidamente corrigidos, cedo perceberam que 'o caminho da liderança' seria tanto mais curto quanto menos opinassem e mais executassem. Certas regras tornaram-se espantosamente claras: em certas grandes empresas, com um MBA e o certo grau de amestramento, só precisas que os anos passem para chegares a algum sítio. Note-se: não a qualquer sítio. Mas tal como um cão recebe um biscoito quando executa na perfeição o exercício de nos trazer o jornal, é certo que há um prémio para quem executa na perfeição as ordens que lhe são dadas. Executar ordens de forma inexcedível tornou-se, em muitos casos, sinónimo de mérito. E aqui é de começar a ter medo.

 

Chegados aqui,poderão alguns pensar que esta é a defesa dos gestores rebeldes, em permanente desconcerto com as cúpulas, em estado de permanente insatisfação. Não é o caso.

Mas não conheço verdadeira inovação, verdadeira disrupção que não tenha na sua essência alguma insatisfação e contestação. Não me recordo de avanços, progressos reais, sem discussões apaixonadas, teses opostas, pessoas com ideias. Claro que tudo isto convive paredes meias com a disciplina e o rigor que são necessários para colocar grandes grupos de pessoas a trabalhar na mesma direcção. O que se discute aqui não é a marcha, mas o plano.

 

Procurando um pouco mais fundo, chegamos a um tema maior, o da relação dos portugueses com a autoridade e com o poder. Aprendo sempre muito a ler Malcolm Gladwell, mas uma das histórias que mais me impressionou nos seus livros, provavelmente relacionada com o meu medo de voar, tinha precisamente a ver com a forma como a nossa identidade cultural se manifesta na nossa relação com o poder e autoridade. Para evidenciar esta relação, Gladwell escolheu vários episódios da indústria da aviação, incluindo acidentes sérios, alguns fatais. O que tinham em comum? Erros humanos protagonizados por pessoas cuja relação com a autoridade as inibiu de tomarem decisões diferentes das que lhes foram ditadas. Num destes exemplo, um acidente fatal no aeroporto JFK, o piloto de uma companhia colombiana sobrevoou durante mais de uma hora a pista de aterragem, gastando o pouco combustível que lhe restava, porque foi incapaz de contrariar a voz de comando da torre de controlo que lhe indicava que ainda não tinha autorização para aterrar. O avisão despenhou-se. Teria bastado um 'não vou cumprir essa instrução , estou sem combustível e preciso de aterrar já'. 

 

Mais uma vez, imagino os cépticos. Que grande treta, dizer que é um problema de relação com a autoridade. A esses recomendo o livro de Gladwell e as citações integrais das conversas mantidas gravadas na caixa negra do avião. Depois disso, um pequeno exercício: quantas ordens erradas, prejudiciais à empresa ou mesmo completamente disparatadas já executaram sem pensar apenas porque era uma ordem?

 

Mais uma vez, poderíamos voltar à conversa de café e dizer simplesmente que os gestores intermédios têm vidas patrocinadas, são um investimento em si próprios e como tal basta o cinismo para interpretar as suas (não) decisões. Pode bastar, mas se queremos mudar o país, temos de mudar estas chefias intermédias e com alguma probabilidade esta é uma mudança com mais impacto do que simplesmente mudar os 'grandes chefes'. É neste meio campo que se jogam a maior parte das decisões do país e sob esta liderança que se encontram a maioria das pessoas que trabalham em Portugal. Se conseguirmos que estas lideranças, liderem, em vez de apenas executarem, teremos, no global, um país mais crítico, mais exigente e mais capaz. E talvez aí possamos a começar a elevar a fasquia e a mudar os grandes e os pequenos poderes. 

 

Para terminar, apenas uma espécie de confidência: temam sempre uma conversa de recrutamento para 'chefe' em que vos digam"adoro trabalhar com pessoas inteligentes". Até as coisas mudarem, é muito provável que para a frase ficar completa falte o resto: "don't play no game i can't win". 

 

 

 (*) Die Meistersinger. Uma história que se conta num triângulo formado pela guilda dos Mestres Cantores, que simboliza a rigidez das regras, por Walther, o génio que simboliza o caos criativo, e por Hans Sachs, o sapateiro e herói do bom senso, esse caminho sempre novo e sempre difícil entre o que está instituído e o que precisamos e devemos questionar. 

 

 

 

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por sparks às 23:22

Segunda-feira, 15.07.13

Somos todos nós a geração sem princípios

Contrato polémico do BPN leva BIC a exigir ao Estado cerca de 100 milhões

 

 

Foi a notícia do dia, esta de que o BPN não só nos custou os impostos que andamos penosamente a desembolsar como ainda irá requerer que paguemos ao seu comprador.

O BPN é um capítulo muito triste na história da chico-espertice portuguesa. Porque é, sobretudo, uma história de chicos-espertos que se deram bem perante uma sociedade anestesiada e amputada de meios para lhes fazer frente. E é por tudo isto que me é tão difícil falar do BPN. Queira ou não, ao revisitar cada passo desta infelicidade portuguesa tenho de revisitar a infelicidade de sermos como somos.

O BPN devia ser elevado à categoria de badge, algo semelhante àquela caveira que simboliza perigo de morte junto de determinado tipo de equipamentos. Devia acender-se um badge BPN junto de determinados negócios, determinadas empresas, determinados governantes e devia ser impossível apagá-lo para que, onde quer que fosse, estivesse bem visível que dali só vinha perigo.

Continuariam a existir BPNs? Provavelmente. Há pessoas que colocam deliberadamente as suas vidas em perigo. Mas seria diferente. Melhor que o badge só uma outra alteração, porventura mais eficaz. A maldade, a batotice e a falta de escrúpulos deveriam ser assinaladas com manifestações físicas. Uma verruga aqui, uma borbulha ali, um esgar que não se desfaz. E os autores ver-se-iam todos os dias ao espelho em metamorfose enquanto persistissem no dolo. Quando questionados sobre o porquê da verruga, da borbulha ou da boca torta, tenderiam a mentir. Nesse momento, a manifestação física acentuava-se, pondo em evidência o dolo. Pinóquio, portanto, mas em meninos crescidos.

Voltando ao BPN e ao papel da banca nos trágicos acontecimentos que marcam a economia portuguesa e mundial desde 2008, mas que foram sendo inflamados durante largos anos antes da Lehman Brothers rebentar pelas costuras. Vale a pena ver ou rever Wall Street - O dinheiro nunca dorme. Vale a pena ouvir Michael Douglas, aka Gordon Gekko, 20 anos mais velho, a gritar "Greed is Good" (erradamente traduzido no filme por 'a ambição é boa', é de ganância que se trata). Vale muito a pena a sequência da palestra na universidade em que um Gekko recém-saído da prisão, ao fim de oito anos de cadeia por tráfico de influências, lança um livro sobre o mundo financeiro, um mundo que está muito pior em 2009 (data do filme) do que em 1993 (data do primeiro Wall Street).

 

Someone reminded me i once said 'greed is good', now it seems it's also legal

 

Nessa primeira sequência, Gekko ironiza com a sua assistência universitária que, em vez de melindrada, lhe aprecia o estilo *: "Vocês são a geração sem rendimentos, sem emprego e sem princípios".

Sem princípios. A falta de dinheiro - que decorre naturalmente de não termos rendimentos ou emprego - não nos torna melhores pessoas, mais puras, mais empenhadas na verdade e no bem. Não é assim que funcionamos, nós os humanos. E é por isso que fazer revoluções de barriga vazia é mesmo muito difícil, senão perigoso, e é também por isso que a educação primeiro e o emprego depois são pilares básicos de uma democracia saudável.

Quanto menos se tem, mais prospera a chico-espertice. Por oportunidade (há mais pessoas a submeterem-se ao que sabem estar errado) ou por sedução (há mais pessoas a quererem embriagar-se no que está errado).

O BPN é uma história em cadeia de pequenas chico-espertices que se tranasformaram na grande chico-espertice. É uma história de figurões, tantos deles condecorados e homenageados pelo bem que fizeram à pátria e aos conterrâneos. É uma história de ignorância. Também está retratada no Wall Street - O dinheiro nunca dorme quando os banqueiros se reunem com o secretário de Estado do Tesouro para debater a enorme factura de impostos que vão apresentar aos contribuintes americanos de forma a suportar as suas aventuras de ganância e dolo. "Falamos em risco sistémico e fica toda a gente assustada". Risco sistèmico, onde é que já ouvimos isso? Pois. No BPN. E nos outros todos iguais. Se não quiserem ficção, há relatos da realidade. Os relatos da banca irlandesa, por exemplo.Ou as explicações que existem de pessoas que merecem credibilidade e que ainda assim pouco mais conseguem do que shares no Facebook.

Não se fazem revoluções sem educação, sem emprego e menos ainda de barriga vazia. Hoje mesmo o INE deu conta que em 2012 existiam dois milhões de portugueses a viver em privação material.

Ninguém quer saber do BPN, a não ser em fúrias momentâneas. Como esta, hoje, aqui, no dia em que sabemos que, no mínimo, ainda vamos pagar - todos nós, com os nossos impostos -  mais 100 milhões de euros ao generoso comprador do BPN. Ninguém quer saber que o esforço destes anos em que a miséria que nunca tinha sido realmente erradicada se voltou a mostrar de forma compungente, despida de visas improvisados e créditos ao consumo, não  sirva para mudar o país mas tão somente para garantir o mesmo status quo que alimenta gerações de chicos-espertos. Ninguém quer mesmo saber e nisso somos todos nós a geração sem princípios.

Nos Estados Unidos, os Gordon Gekko, pelo menos alguns, passam uns anos na cadeia.

 

(*) É tema para outro post este deslumbramento das audiências por quem as trata mal. De certa forma, é esse o truque do 'nosso' guru do empreendedorismo, Miguel Gonçalves.

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por sparks às 21:10

Domingo, 14.07.13

Sim, acho que sou um pouco árabe

 

O Ganhar Mundo é um programa semanal em exibição na TVI 24 do qual sou uma das autoras. Logo suspeita. Feito o disclaimer, o Ganhar Mundo é um programa honesto que dá voz às empresas e aos empresários desafiando-os a contar a outras empresas e outros empresários coisas práticas, úteis, divertidas sobre como fazer negócios fora de Portugal.  Há histórias fabulosas. No episódio desta semana, sobre como fazer negócios nas arábias (nem todos forçosamente negócios das arábias), um dos entrevistados, Carlos Julião, ex-delegado da AICEP nos Emirados Árabes Unidos, dizia que os árabes valorizam o aspecto ‘pessoal’ da reunião. Saber quem é o outro. Afirmação em que era secundado por Tiago Pedrosa, da empresa Ertecna, que exemplificava com o facto de, nos países árabes, a reunião de trabalho, propriamente dita, começar muitas vezes meia hora depois da hora marcada, podendo ser interrompida várias vezes. Porque começa meia-hora mais tarde? Não é por falta de pontualidade, mas porque os primeiros 30 minutos são dedicados a conhecer o ‘outro’, a perceber com quem se vai negociar, a ver como se move e como nos olha. Parece de somenos importância? A mim não. Tão importante quanto ganhar dinheiro – mais importante que ganhar dinheiro – é como vou ganhar esse dinheiro e isso é indissociável de com quem vou negociar. Logo, faz diferença saber quem é o meu ‘parceiro’. Se é homem de família ou um solteirão de borgas, se é homem de família e um solteirão de borgas (aplica-se às mulheres também, apesar das idiossincrasias da cultura árabe), se é um homem de cultura ou um  homem de negócios streetwise, se o quero ter como amigo ou se apenas quero ganhar dinheiro.

O negócio não é (apenas) dinheiro. O negócio é, segundo Warhol, a arte suprema, mas sobretudo um modo de vida. E como modo de vida, deve ser tanto mais interessante, rico, humano quanto possível. É como o vejo.

E sim, nesse sentido, sou árabe. E adoro a ideia de interromper uma reunião de negócios para tomar um chá de menta ou para conversar com o Deus a quem nos confiamos, seja Ele quem for.

Até breve

 

(*)Ganhar Mundo - Como Vender Lá Fora - Emirados Árabes Unidos

http://www.tvi.iol.pt/programa/ganhar-mundo/4848/videos/314074/video/13917466/1

 

 

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por sparks às 20:56

Quinta-feira, 11.07.13

Aversão à perda ou pagar 21 dólares por uma nota de 20

A história é contada no livro 'Irracional' Orin Brafman e Rom Brafman. Passa-se numa aula de negociação do professor Max Bazerman na Escola de Gestão de Harvard. No primeiro dia de aulas, Bazerman anuncia um jogo que parece bastante inócuo. "Agita no ar uma nota de 20 dólares e diz que a vai leiloar. Toda a gente é livre de fazer um lance: só há duas regras. A primeira é que os lances têm de subir sempre mais um dólar. A segunda regra é que quem ficar em segundo lugar no leilão tem de pagar o seu último lance mesmo que não ganhe nada ... Os lances são rápidos e intensos até chegarem ao nível entre os 12 e os 16 dólares. (…) sem se aperceberem os dois alunos com os lances mais altos estão presos. Um ofereceu 16  e outro 17; o que oferece 16 tem de oferecer 18 ou pagar os 16. É claro que o resto do grupo se desata a rir quando o lance ultrapassa os 20 dólares.

Mas a aversão à perda faz com que continuem."

Lembrei-me deste episódio hoje a propósito do cenário político que se vive em Portugal ao dia de hoje (muito importante referir, ao dia de hoje, já que as mudanças provam ser vertiginosas).

 

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por sparks às 23:44

Quarta-feira, 10.07.13

Este blog ia chamar-se O Mercador de Veneza

Este blog ia chamar-se O Mercador de Veneza. Porquê o Mercador de Veneza? Se quiserem mesmo saber podem ler uma explicação mais detalhada aqui, mas resume-se no essencial. Shakespeare sabia o que fazia. O Mercador é uma obra notável e "é uma comédia, é uma tragédia e no fim os bons ganham". Foi exactamente isto que eu disse a alguém que me perguntou porque gostava tanto da peça e do texto. É um bocadinho mais que isso, escarafuncha na natureza humana e por mais sofisticadas que as sociedades se tornem no fim do dia é tudo sobre pessoas. Sobre nós. Sobre a nossa natureza, a própria e a partilhada e isso fascina-me mais que tudo.

Então e do Mercador até X-Acto (não, não me apetece nada escrever Ato), como é? É simples. X-Acto chegou primeiro que O Mercador de Veneza. Chegou porque vivo rodeada de gente louca saudável e a frase (e o gesto) de cortar os pulsos ganhou uma normalidade ... normal. Um dia fui para casa a pensar nisso. E X-Acto pareceu-me bem, porque serve para cortar os pulsos mas pode ser bem mais que isso. Vá, um pouco de conversa do tipo 'criativo-intelectual'. Há o X. E o Acto. O X da questão. Os actos do nosso dia-a-dia de gente. O corte fino na realidade. O corte fino. E. claro, o X-acto propriamente dito.

O Pedro Neves que é o mago dos blogs do SAPO alinhou e preparou um design catita para o X e para o Acto. E depois entrei em processo de reflexão. Quero mesmo fazer um blog? E vai mesmo chamar-se assim? E X-Acto não é demasiado sangrento? Eu não sou assim tão de fazer sangue. As minhas amigas até me chamam de 'xanolítico' de vez em quando. Nessa dissertação passaram-se meses. O Mercador de Veneza tornou-se maravilhoso. Estava tudo lá. Era tão contemporâneo. Agiotas que querem a nossa carne para lhes salvar a alma. Não a alma, mas o ego. O ego e o resto. Mulheres inteligentes que encontram caminhos onde homens viam becos sem saída (não, também não sou feminista). E comecei por conta e risco a fazer um blog - oh traição - no wordpress chamado O Mercador de Veneza. Escrevi dezenas de textos entretanto. E um dia destes, há poucos dias, percebi que não queria estar presa à cosmética em que ameaçam tornar-se muitos blogs.

Quero escrever. Sobre pessoas. Pessoas em contextos que envolvem outras pessoas. Pessoas em contextos em que desempenham um papel (desempenhamos sempre papéis). Pessoas como nós ou o oposto de nós sobre as quais, por bons ou maus motivos, é preciso escrever. De volta à natureza humana e a essa coisa que somos sempre nós por trás dos grandes feitos, das grandes derrotas, dos poderosos movimentos de mudança. Somos nós. Humanos, frágeis, gigantes.

E isso não precisa de tanta reflexão quanto isso no que respeita ao nome do sítio onde vai acontecer essa escrita, essa reflexão, essa intimidade. É por aqui, virá quem quiser. X-Acto is just fine.

Encontramo-nos por aqui.

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por sparks às 11:47


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