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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos



Segunda-feira, 30.12.13

'Não aceitamos a fatalidade do mal' | 'Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres'

Foi Natal. Foi um bom Natal. Foi Natal como o Natal deve ser. Com a família junta, com consoada, missa do Galo, almoços, lanches, jantares, conversas noite fora, risos de crianças, risos de adolescentes, telefonemas que quem está longe mas perto, cozinhas viradas do avesso, fornos a suar as estopinhas,embrulhos, palavras doces, dieta à dieta, não-consigo-comer-mais, já-experimentaste-aquele-doce-que-a-prima-trouxe, olha-vamos-abrir-aquele-tinto.

 

Foi Natal. Silenciámos as notícias. Vimos os filmes lamechas. Vimos comédias. Os miúdos viram vídeos parvos e riram sem parar.

 

Foi Natal. Também falámos de coisas mais sérias. De não banalizarmos o que é importante. Do amor às pequenas coisas de todos os dias. De não desistirmos do que é justo e do que traz sentido ao que fazemos.

 

Foi Natal e no dia seguinte uma notícia brutal fez estremecer. Uma notícia de algo que não podia ter acontecido e que aconteceu no Natal. Uma notícia de perda, de absurdo, de luto. Uma notícia que não se digere, que se chora, de que se fala quase em modo automático porque temos medo de nos deparar com um abismo negro.

 

Durante todos os dias quis escrever alguma coisa, mas não consegui escrever alguma coisa. Tudo me parecia insuficiente ou simplesmente estéril. Fui lendo quem escrevia. Outros como eu, que sentiram um absurdo da perda, do ilógico, do fim fora de tempo.

 

Hoje e apenas hoje encontrei palavras que não minhas e que, de alguma forma, preencheram um espaço.

 

"Não aceitamos a fatalidade do mal. Como Antígona a poesia do nosso tempo diz: 'Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres'."

 

São palavras da Sophia de Mello Breyner, ditas, segundo pesquiso, a 11 de Julho de 1964, no almoço promovido pela Sociedade Portuguesa de Escritores por ocasião da entrega do Grande Prémio de Poesia atribuido ao Livro Sexto. São palavras que hoje encontrei na edição de aniversário do DN no texto do Gonçalo M. Tavares.

 

São palavras boas e que me fizeram bem.

Acredito que a Mitó se reveria nelas e que quereria que não aprendessemos a ceder aos desastres.

 

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por sparks às 00:19


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