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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos



Quarta-feira, 26.02.14

As pessoas que lêem sobre TV e as pessoas que vêem TV vivem em mundos separados?

A ler:

 

Is House of Cards Really a Hit?

 

É ou nao é?

Façam lá o obséquio de ler que não vão dar o tempo por mal empregue.

Um destes dias falamos disto por aqui. (que hoje, como dizia o Eça, isto está de ananases e não é por causa do calor!)

 

Até breve

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por sparks às 19:58

Quinta-feira, 20.02.14

É a lealdade, estúpido! a estúpida da lealdade

A arte imita a vida, a vida imita a arte, and this goes on, and on, and on.

Em certos dias, estas  evidências esfregam-se nos nossos olhos, zangam-nos com o mundo, com os outros, connosco e lá ficam em suspenso para nos reconciliarem. No minuto seguinte, na hora seguinte, no depois seguinte.

Ter uma série de culto é uma espécie de mania. Já é assim há muitos anos e o facto de hoje poder ver qualquer série a qualquer hora, vários episódios seguidos até à insanidade, não mudou em nada esta mania. Gosto de ver um episódio de cada vez da série que, a cada tempo, escolho para ser a versão TV do livro de cabeceira. Gosto de saborear um episódio de cada vez e de ficar a pensar no episódio do dia seguinte. Já fui fã das séries de culto que realmente fica bem dizer que somos fãs em público e já me deliciei dia após dia com verdadeiras soap às quais os connaisseurs torciam o nariz. Nunca me incomodou. É uma mania, um vício, um ritual, o que lhe queiram chamar. E da mesma forma que ninguém deixa de ser nosso amigo porque temos uns quilos a mais, uma borbulha nojenta na testa ou um casaco de gosto duvidoso, as séries já estão nesse saco de idiossincrasias.

 

Tudo isto para chegar aqui ao ponto onde hoje queria mesmo chegar. A minha série do momento chama-se The Good Wife e vai na quinta temporada. Comecei lançadíssima na primeira, vi até meio da segunda, interrompi na terceira, retomei na quarta e estou imparável desde então. É uma série sobre pessoas que vivem acima das minhas possibilidades, advogados e políticos na sua maioria. É uma série de 'ricos' cuja acção tem como palco central um escritório de advogados cuja quota de entrada como sócio é de 600 mil dólares. Mas é também uma série sobre mães e filhos, mulheres, mães e sogras, jovens aspirantes na máquina da justiça, alguns bandidos oficiais e alguns bandidos não assumidos. E é uma série que entra muito bem no território das empresas, nomeadamente de startups, e que explora de forma natural e não exibicionista a forma natural e não exibicionista como a tecnologia entrou na vida de todos nós. Do mais básico das redes sociais aos temas de espionagem da NSA (retratados da forma mais naturalmente coloquial).

 

Gosto de todas as derivadas, da política, da justiça, das disputas de negócios, das causas improváveis sobre direitos e deveres. Gosto da paixão e da tensão que marca cada episódio. Gosto do facto de estarem dois adolescentes no meio da história. Gosto especialmente da forma como a série entra pelas empresas dentro, desde a empresa-escritório de advogados que serve de âncora à história, a tantas outras que se vão cruzando de episódio em episódio. Em The Good Wife as empresas são vistas pela lente única das pessoas que as protagonizam, que lhes dão corpo. O chefe, o estagiário, o sócio, a secretária, o financiador. E as empresas são esse puzzle complicado constituído por pessoas muito diferentes, com expectativas diferentes, passados diferentes que se encontram num mesmo momento presente. É assim ali e é assim cá fora, quando me levanto do sofá e volto à vidinha.

 

Acredito que foi por isso que os episódios dos últimos dias me provocaram uma sentimento tão real. Indignei-me - a sério, argumentei - a sério, disse 'toma' mental - a sério (e outras coisas).

Nestes dias, o tema de The Good Wife foi desapontamento, traição e deslealdade. A personagem central - a Good Wife - sai da firma em que recuperou a sua carreira profissional e de que se tornou sócia, em ambiente de conspiração com os sócios e colegas com quem trabalhou durante anos. Conspiração significa roubo de informação, aliciamento de clientes, jogo duplo. Sem se trair, sem quase se melindrar.

Os 'conspiradores' sentem-se menosprezados, usados e não reconhecidos, e por acreditarem no seu talento querem a sua própria ribalta. Tudo plausível e legítimo.E, no entanto, tudo desprezível. Porque não há grande causa que se compadeça com uma forma de agir miserável. E quando ao vingarmos o erro de alguém nivelamos abaixo desse erro, é mesmo uma causa perdida.

 

Voltando à vida real. De pessoas que trabalham umas com as outras, às vezes são chefes, às vezes são patrões, na maioria dos casos são índios e empregados. Todos nós passamos por estes status e estados de alma. Trabalhamos que nem uns cães e alguém se esqueceu de um obrigado. Fazemos melhor que outros mas temos menos habilidade política, menos trânsito social ou na suprema das injustiças menos apelidos para quem tem esse critério como referência. Já todos passámos por isso. Começa logo cedo na escola e continua vida fora. Já fomos injustiçados, preteridos, obliterados, simplesmente esquecidos. E não somos nem santos nem mártires, somos pessoas normais que ficam lixadas como as pessoas normais ficam quando as coisas não correm bem.

 

Mas há momentos, alguns momentos muito bem definidos na linha do tempo, em que somos como que sorteados por uma ordem qualquer e temos de tomar  uma posição, decidir um caminho, assumir o que somos lá no fundinho.

E nesses momentos não somos todos iguais. Uns tornam-se tão insuportáveis como os conspiradores da série, outros são igualmente insuportáveis mas podemos nunca saber (o que é pior) e outros ... outros são mesmo pessoas normais, pessoas-pessoas. Que se debatem, que têm ataques de fúria, de depressão, de ansiedade, mas que quando são colocadas na ponta da faca conseguem não se esquecer do que é isso de fazer as coisas bem.

Não se armar em fortalhaço quando se está em grupo ou em humilde quando se está a solo, é fazer as coisas bem. Discordar ou dizer coisas menos simpáticas directamente aos visados é fazer as coisas bem. Não manipular pessoas que gostam de nós e que confiam em nós é fazer as coisas bem. Não tomar como 'bom' apenas aquilo que é igual a nós é fazer as coisas bem. E há dezenas, centenas de outras variáveis que não vêm nem nos manuais de gestão, nem noutros manuais académicos, nem na catequese, nem nos códigos de ética. São straight from de heart. Aprendem-se connosco, aprendem-se em casa, aprendem-se  vivendo uns com os outros.

 

Hoje uma pessoa que trabalha comigo há dois anos assumiu novas funções. Vai ter uma equipa para gerir, objectivos para alcançar, expectativas de todos para nivelar. Na conversa de preparação para as novas funções, depois de discutidos os detalhes operacionais, disse-lhe que aquilo em que devia colocar mais esforço era em conhecer as pessoas, em perceber quem são, mais do que aquilo que fazem. Conhecer as pessoas e perceber se a lealdade está lá, se a honestidade está lá, se a humanidade está lá. Porque se não estiver, tudo o resto pode valer muito pouco.

Já tive pessoas que trabalham comigo a sofrer por estarem há mais de uma tarde sem me dizer que se vão embora porque tiveram uma proposta de trabalho. E já tive pessoas que à minha frente juram uma dedicação ímpar, e ainda as sílabas não fizeram a digestão e já são cozinhadas para um propósito inverso.

 

A vida é muito melhor quando temos as pessoas boas por perto. É tão banal isto quanto ver séries no sofá e falar de personagens como se fossem 'pessoas a sério' mas se não fossem as coisas banais, a vida era seriamente insuportável.

 

Até breve, sejam leais e protejam os vossos ficheiros com passwords : )

 

P.S. - Não disse ainda mas o episódio que deu origem a esta conversa toda é simplesmente fenomenal!

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por sparks às 01:35

Sábado, 15.02.14

Há dias em que o universo fala connosco. Mal não fará, ter um dia destes de vez em quando, certo?

Nunca tinha ido a uma aula de ioga.

Vi filmes sobre ioga, participei em conversas, mais ou menos sérias, sobre ioga, ouvi amigas e amigos descreverem as suas experiências no ioga.

Mas nunca tinha ido a uma aula de ioga e, tão pouco, sentido alguma espécie de curiosidade sobre o ioga.

 

E é talvez por isso que dou comigo a escrever sobre um tema e uma experiência que dificilmente estaria na lista das coisas sobre as quais escrevo.

Mas hoje aconteceram uma série de coincidências e toda a minha racionalidade não foi suficiente para não ceder à possibilidade de ser um daqueles dias em que o universo fala connosco. Mal não fará, ter um dia destes de vez em quando, certo?

 

Começando pelo princípio. Hoje fui à minha primeira aula de ioga. Chego 10 minutos antes, informo que venho 'experimentar' uma aula e ouço apenas um despachado 'então descalce-se'. Então descalço-me, arrumo os pertences num cacifo e entro na sala onde vai decorrer a aula. O professor - mestre? não faço ideia das nomenclaturas - toca-me no ombro, pergunta baixinho se é a primeira vez, entrega-me uma manta e uma almofada e encaminha-me para um dos tapetes. Já há pessoas deitadas, tapadas, de olhos fechados, há outras a chegar. Só há sussurros, não há barulho, tudo acontece cordatamente como se uma ordem pré-instalada fosse do conhecimento geral, mesmo daqueles, como eu, que ali estão pela primeira vez (percebo que há mais dois).

Durante a hora e meia que se seguiu, aconteceu tudo o que, de alguma forma, sabia que ia acontecer. Pessoas deitadas de olhos fechados e palmas da mão viradas para cima, pessoas de pernas cruzadas, polegar tocando o indicador e soprando o Ooooommmmmm. Pessoas em posições inusitadas, estranhas, disparatadas. Agora um peixe, agora um gafanhoto, agora um conjunto de nomes impronunciáveis ou simplesmente impossíveis de reproduzir por uma recém-chegada sem pergaminhos. Inspirar e expirar. O aqui e o agora. Sorrir com o rosto, sorrir com o coração, sorrir com os dedos dos pés. Isso.

 

Saio de lá, regresso a pé a casa e venho pelo caminho a pensar no que me levou até ali.

Recordo ter dito várias vezes a várias pessoas que tinha curiosidade em 'sentir' o meu corpo, em adquirir uma outra flexibilidade, uma outra integralidade (existe a expressão? da condição de ser completo, inteiro). Recordo algumas recomendações, as mais e as menos 'grounded', as boas e más energias, o ioga 'ortopédico' é capaz de ser o melhor para ti ou o ioga 'ortopédico' é capaz de ser o mais frustrante para ti. Não pude não reparar na extraordinária delicadeza das pessoas a quem pedi que me falassem de ioga. Ninguém foi taxativo, absoluto, imperativo. Ninguém quis 'vender' o seu ioga. Uma gentileza mesmo das pessoas a quem conheço as mais profundas convicções noutras matérias.

 

E eu que sou uma espécie de 'calhau com olhos ', usando uma expressão tão-apropriada que ouvi recentemente, no que respeita a revelações, ensinamentos de mestres instantâneos, verdades supremas prontas a serem consumidas, fiz uma espécie de turismo de ioga, entre os trip-advisors conhecidos e online, ficando à minha total responsabilidade a escolha.

 

É por isso que estou grata. O meu baptismo de ioga foi exactamente o que devia de ser. Não foi perfeito, é fácil de perceber que não podia ser. Não faço ideia de quantos músculos, vértebras ou chakras foram remexidos durante uma hora e meia. Mas faço perfeita ideia - até pela ressaca posterior - que não fazia ideia, senão teria sido menos voluntariosa. E não fui menos voluntariosa porque queremos sempre ser tudo, fazer tudo. E no que não doeu ou não foi uma impossibilidade física, eu lá fui puxando, dobrando, sustendo. Respiro rápido demais. Estou demasiado atenta aos movimentos em volta. Tropeço (literalmente) no meu equilíbrio.O ioga de que fui à procura devia  confrontar-me com estas evidências e, em consequência, ajudar-me com elas. E foi isso que trouxe de lá. Se por lá continuar, talvez a flexibilidade e a integralidade vão domando o voluntarismo e a sofreguidão do fazer.

 

O relato podia acabar aqui e estou certa que ficava mais bem vista. Mas não tenho como não escrever mais duas ou três coisas. Como o facto de toda a energia da manhã ter se transformado à tarde numa enorme necessidade de dormir. Como depois de breves minutos de sono incrivelmente profundo, acordo porque alguém ao meu lado ligou a televisão onde começa o filme 'Comer, orar e amar'. O filme feito a partir do livro que foi uma das prendas do meu 40º aniversário. O livro que gostei e um filme que, na estreia, nem por isso gostei. E que hoje revi e que hoje me fez ter vontade de só ser um estereótipo palerma dos que dão jeito na literatura e no cinema e ir por aí mundo fora, entre pizzas, meditação e o amor da nossa vida. Gosto daquele Deus, que sorri, que somos nós. Na realidade, acho que é esse o único Deus, chamemos o que chamarmos, procuremos onde quer que seja. Mais aquela vontade de sair, de não ser refém do que tem de ser, de me dispor a descobrir por mim onde devo estar, onde quero estar. Liberdade, inspiração, expiração.

 

Vejo o filme até ao fim. Vou ao quarto da minha filha saber como vai o estudo da matemática, digo-lhe que é bonita, ela responde-me com ironia adolescente e quando acabei de completar mais um momento 'estranho' do dia, ela diz-me: 'queres ver o que aprendi a tocar?'. Pega na viola, articula os dedos e o que ouço é isto:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há dias em que o universo fala connosco. Mal não fará, ter um dia destes de vez em quando, certo?

 

Até breve

 

Nota to self e aos demais: este deve ter sido o post que mais tempo ficou aberto sem saber se o destino era rascunho ou publicação. Não é o meu território natural, ou, de certa forma, até é.

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por sparks às 23:11

Quarta-feira, 12.02.14

Falar sobre nós é tão bom como comer. Ou ganhar dinheiro. Ou sexo.

Poucas coisas me fascinam tanto quanto entender a razão pelas as quais as pessoas fazem coisas.

Porque são tão defensivas, em certos contextos.

Porque são tão simpáticas e disponíveis, noutros.

Uma longa lista de porquês, alguns que se repetem e, de vez em quando, uns cromos novos na caderneta.

 

Um dos porquês recorrentes acontece-me sempre que leio coisas absolutamente privadas ou que apenas dizem respeito a nós próprios ou a meia dúzia dos nossos. E lá fico eu a cismar no porquê. Porqu~e tanto detalhe público? Porquê sequer tornar público?

 

Hoje enquanto pesquisava 'coisas' sobre formas de celebração, o sentido da celebração, as celebrações mais míticas, etc, tropeço num artigo que me levou a outro artigo e que ... voilá ... responde a este porquê. Os cientistas de Harvard - note-se, não é especulação nem conversa de café, são cientistas e de Harvard - descobriram que falar de nós próprios nos traz uma satisfação semelhante à que temos com a comida, o sexo ou o dinheiro.

Num estudo que com algum humor os autores veriam bem baptizado como 'a penny for your thoughts', os cientistas perceberam que mesmo oferecendo dinheiro aos participantes para falarem de outros temas que não deles próprios, a maioria abriria de bom grado mão de parte dos ganhos só ... para poder falar de si própria em vez da política do país, os resultados da Superbowl ou de um estudo como este.

 

Está explicado. É tão bom para nós como chocolate, um bónus generoso ou sexo. Pelo sim, pelo não, e em prol da harmonia das relações, é melhor não fazer no fim de uma conversa sobre nós aquela pergunta clássica sobre 'se foi tão bom para ti como para mim'.

 

Até breve

 

 

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por sparks às 17:52

Segunda-feira, 10.02.14

To be indie or not to be

Ouvi a noticia em tempo real. Da cozinha, entre os tachos do almoço, chegou-me o sobressalto na voz de um dos meus teenagers. "Não vais acreditar no que aconteceu". Chego à sala com cara de ponto de interrogação e percebo que não é nada comigo. Ou melhor, isto é com "eles", os meus filhos. Não era para mim, nem esperam sequer captar a minha atenção (o que é raro). O que ainda me faz ficar mais curiosa. Oiço a minha filha a ler: "I am sorry 'Flappy Bird' users, 22 hours from now, I will take 'Flappy Bird' down. I cannot take this anymore." "It is not anything related to legal issues. I just cannot keep it anymore." Ah, ok. É o tal jogo que passam a vida a jogar. Ah, ok estou fora disto porque é das poucas coisas em que não nos contaminamos. Gaming. Esta mãe é hopeless. Falta-lhe destreza de polegares para as consolas e se a evolução da Humanidade passar de novo por aí está em rota de colisão com o evolucionismo. Mas a noticia interessa-me. Como não? Um jogo que todos jogam e o criador diz adeus ó vou-me embora? Em duas semanas estava a ganhar 50 mil dólares. Por dia. Hmmmm. O vietnamita Dong Nguyen diz que quer continuar a ser indie. Não quer ribaltas, não quer atenções, não quer 50 mil dólares por dia. Se for verdade, interessa-me este rapaz em contramão. Os cínicos já disseram LOL. Algum dia?, atiram. O tipo fez foi alguma asneira da grossa ( tipo - teen inside information - ter manipulado os tops dos jogos). Aqui a totó da gaming-excluída vai ficar a pensar no assunto. "Flappy Bird' Creator Says He's Shutting The Game Down, Putting Us All Out Of Our Misery"

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por sparks às 00:03

Sexta-feira, 07.02.14

Já discutimos isso internamente

Da série as-coisas-que-eu-te dizia-se-não-fosse-muito-profissional

 

Cenário: Reunião de empresa (pode ser entre departamentos, desde que suficientemente formais, ou entre empresas)

'Ah, já repararam que alhos com tremoços e margarina não resulta muito bem?'

(resposta com ar de quem nunca pensou no tema metamorfoseado em ar de quem come alhos-tremoços-e-margarina todos os dias e não pensa noutra coisa há meses)

 

'Sim, claro, temos perfeita noção disso, mas se experimentarem margarina-alhos-e-tremoços o resultado pode ser surpreendente'

(aqui temos o momento clássico de vamos ver se os baralhamos ou se pelo menos ganhamos tempo)

'Mas margarina-alhos-e-tremoços é a mesma coisa que alhos com tremoços e margarina, só que em ordem invertida'

(damn it!)

 

'Pois, já discutimos isso internamente e estamos a avaliar as várias possibilidades'

 

'Já discutimos isso internamente' é a fórmula corporativa para dizer ' mete-te mas-é na tua vida que não tens nada a ver com isso' devidamente rematado com um 'achas que sou estúpido, ou quê?'

 

Os momentos de franco convívio e de saudável chapada (no sentido figurado, no sentido figurado) que se perdem à custa desta coisa de sermos corporativamente higienizados. Digo eu, que até tenho a felicidade de trabalhar, na maior parte do tempo, com as pessoas mais desbocadas do planeta. Tem sido (quase) sempre assim, se calhar é por isso que estranho.

 

Bom fim-de-semana

 

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por sparks às 20:58

Quinta-feira, 06.02.14

Let's not make a deal

Percebo o quanto importante é para mim escrever pela falta, diria quase física, que me fazem estes espaços em que teclo. É uma espécie de harmonia entre o que penso e aquilo que os meus dedos vão construindo. Acontece-me amiúde estar nos mais diversos sítios a escrever mentalmente. Às vezes acredito que as minhas melhores prosas são essas, as que nunca vou recuperar porque foram escritas no ar e nunca são, posteriormente, fiéis materialmente. Um pouco como os amores platónicos, nunca invalidados pela arbitrariedade dos dias que tornam tudo menos absoluto.

Hoje o que me move é a necessidade  de compromisso. Passamos os dias a fazer compromissos. Temos de ser razoáveis. Nas guerras palacianas das empresas, nas disputas minúsculas com o colega do lado, nas  negociações disto e daquilo, o compromisso elevou-se a uma categoria majestástica. Somos tanto melhores quanto formos capazes de nos comprometer. De perceber os limites. De contornar as arestas.

Progressivamente, torna-se uma arte ou uma espécie de exercício físico. Como os que os meus filhos fazem na escola, tipo salto em comprimento. No big deal. Ninguém é fantástico por saltar muito em comprimento, não é como ganhar uma corrida ou marcar o golo decisivo. Mas tem essa coisa de ser incremental. Hoje salto mais 10cm que ontem, amanhã mais outros 5 cm e assim vai.

Os tipos bons nas empresas - os que 'crescem' na organização, os que 'criam valor' - são os que dominam esta arte do compromisso.

Mas hoje vou tirar partido desta ideia tão simples quanto 'let's not make a deal'. Desculpem lá, comprometidos do mundo, mas é só isso que me apetece nesta noite de inverno. Vou só mesmo apreciar esta liberdade de não ter de dizer bem , porque sim, pensar igual, porque sim, ser a pessoa mais consensual do mundo, por que sim. Devíamos todos experimentar mais vezes. Sabe mesmo bem.

 

Até breve,

 

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por sparks às 23:23


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