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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos



Terça-feira, 06.01.15

Chen Guangbiao tem um sonho

Chen Guangbiao

 

O sonho de Chen Guangbiao é comprar o New York Times.

Não é uma piada, avisa o próprio. Ou avisou, quando há um ano publicou um artigo de opinião em que expressava a sua intenção de comprar o New York Times

Quem é Chen Guangbiao e porque razão queria tanto comprar um dos jornais mais influentes do mundo ocidental?

Chen Guangbiao nasceu pobre, muito pobre, numa região agrícola a norte de Xangai. Duas das suas irmãs morreram de fome. Começou a trabalhar aos 9 anos. Carregava água aos baldes e vendi-a à chávena na aldeia onde vivia. Reza a lenda que foi assim que ajudou a família a sustentar-se e que pagou os seus estudos.

Chen Guangbiao estudou na Nanjing University of Chinese Medicine e daí lançou-se para o seu próprio negócio de materiais reciclados - Jiangsu Huangpu Recycling Resources Company  - avaliado em 800 milhões de dólares, que faz e Chen um dos 400 homens mais ricos da China, detentor de um negócio e de uma riqueza cuja origem se desconhece

Chen Guangbiao é um homem das redes sociais - um homem de massas com 4,35 milhões de seguidores no Weibo, o twitter chinês. 

Chen Guangbiao é um filantropo. Na China, como nos Estados Unidos. Há cerca de um ano, pela mesma altura que anunciou a intenção de comprar o New york Times, Chen tornou público que iria convidar 1000 americanos pobres para almoçar e a cada um daria 300 dólares, prometendo inclusive cantar 'We are the world' durante a refeição. A promessa cumpriu-se, pelo menos no que toca à canção. Os 250 'pobres' americanos que apareceram consolaram-se com um bife mas não deixaram de chamar 'fraude' e 'ladrão' ao milionário chinês que decidiu canalizar os 300 dólares prometidos a cada um dos 1000 putativos convidados para o New York City Rescue Mission.

Chen Guangbiao é um visionário - numa Pequim de ar poluído, ele vende latas de ar fresco e puro. Mais de 8 milhões de latas vendidas em 10 dias.

Chen Guangbiao é completamente pro-ambiente. Não podia ser  mais verde e sustentável. Tanto que renomeou os seus gémeos como Chen Environment e Chen Environmental Protection. Mas não se fica por aí: usa sempre o mesmo guardanapo, no hotel usa a mesma toalha toda a semana e às vezes em vez de se assoar a um lenço aproveita a boa e velha manga.

Chen Guangbiao é completamente a favor da liberdade de imprensa. E acredita que há muito disso na China. "O que o governo chinês detesta são rumores e boatos, dando conta de factos frívolos". Na China, por exemplo, quando alguns jornalistas noticiaram que algumas obras filantrópicas de Chen eram na realidade menos filantrópicas do que o anunciado, o governo emitiu uma directiva inibindo reportagens negativas sobre Chen Guangbiao. Porque causa da sua frivolidade, precisamente. 

Agora que já sabemos alguma coisa sobre Chen Guangbiao, é altura da pergunta mais importante: porque razão tem ele o sonho de comprar o New York Times?

"I had the idea of purchasing The New York Times when I first placed an advertisement in it in December, 2012, claiming China's sovereignty over the Diaoyu Islands. I find Americans know little about a civilized and open China that has been enjoying unprecedented development. The tradition and style of The New York Times make it very difficult to have objective coverage of China. If we could purchase it, its tone might turn around. Therefore I have been involved in discussing acquisition-related matters with like-minded investors."

A explicação, pelo próprio. A tradição e o estilo do New York Times dificultam muito uma cobertura objectiva da China. É um problema.

"Há um sentimento emergente na sociedade chinesa: se não gostamos de um determinado ponto de vista, compramo-lo". As palavras são de um académico em comentário para o Wall Street Journal. Na África do Sul, um dos principais jornais e grupo de media foi comprado pela televisão pública da China. Outros media estão na mira de investidores chineses. "Não se verão artigos sobre o Tibete, nem se chamará massacre a Tiananmen", diz Sarah Cook, analista na Freedom House.

Espero que se tenham divertido. É um tema engraçado - sobretudo porque não tem nada que ver com o que se passa em Portugal. Estes americanos e estes chineses são mesmo uns cromos.

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por sparks às 23:39

Sábado, 03.01.15

A arte da rua

Pejac - França

 

Gosto da arte que enche as ruas. Torna as cidades vivas, de hoje, de agora. O P3 fez uma galeria de imagens a partir da selecção da Street Art News das 25 obras de arte urbana de 2014. E apesar de adorar mochos, não resisto a esta imagem que aqui reproduzo. 

 

 

 

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por sparks às 22:36

Quinta-feira, 01.01.15

A melhor idade da vida

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Photo: Maya Robinson and Photos by Getty Images /http://nymag.com/thecut

 

Nas últimas semanas de 2014 fui coleccionando uns quantos estudos e artigos sobre a idade.

Num desses artigos, The Power of 29: An Ode to Being Almost 30, a autora coloca-nos perante as angústias de ter 20 anos nos dias que correm. Ou talvez angústias de sempre, a julgar pela sábia observação da escritora Alice Munro, nos seus pródigos 83 anos, para quem a entrada nos 30 é 'aquela idade em que por vezes é difícil admitir que estamos a viver a nossa própria vida'. Continua a acontecer vida fora, diga-se de passagem.

Check. Ter 20 anos é difícil. (é escusado dizer que ser adolescente é ainda e sempre muito mais difícil)

Continuemos então. 

A melhor idade são os 35. Diz um estudo da seguradora Aviva, aqui analisado pelo jornal Guardian.

Uma idade 'perfeita' sobretudo para o escalão etário seguinte (45-54), mais até que os próprios, e menos que o escalão dos vintes ou dos sessentas, respectivamente mais entusiasmados com a sua própria idade ou com os saudosos quarentas. Mas uma idade igualmente cheia de problemas e ansiedades, aliás segundo um estudo prévio (!), a idade do início da crise da meia idade.

Check. ter 30 anos é (também) difícil.

Dos 40 para a frente todos sabemos que é suposto ser difícil. Dizem-nos (ameaçam-nos) que sim desde que temos 20, ou menos. Aos 40 aparecem rugas a valer, as articulações articulam-se menos, as responsabilidades são maiores que nunca, os filhos crescem e dão-nos o tipo de preocupações que 10 anos antes, quando andávamos a preparar lancheiras e a garantir horários de dormir e sopa à refeição, achávamos absolutamente menores. Os pais ficam mais velhos, doenças injustas e acidentes imbecis acontecem (sim, acontecem antes também, mas de repente vemos um padrão em tudo). E é suposto continuar difícil vida fora, 50, 60, 70, talvez com a redenção da senilidade aos 80 ou 90.

Check. Ter 40, 50, 60, 70 anos é difícil.

Cheguei assim, há uns meses, a uma entrevista com a fabulosa Helen Mirren por ocasião do anúncio do seu nome (e rosto) como cabeça de cartaz das campanhas da L'Oréal. Felizmente Mirren não faz parte do grupo do 'vamos-lá-dizer-o-que-toda-a-gente-está-à-espera'. E toda a gente está à espera que se queixe da discriminação das mulheres, nomeadamente no mundo carnal do cinema e do espectáculo. Toda a gente está espera que diga que envelhecer é uma merda e que para as mulheres é pior do que para os homens. O que, não deixando de ser verdade, está longe de ser toda a verdade. E é por isso que há esperança quando ouvimos Mirren, nos seus 69 anos, dizer que os 20 foram óptimos, os 30 espectaculares, os 40 fabulosos, os 50 extraordinários, os 60 fantásticos e que espera que os 70 não sejam nada menos que isso.

Ou reflectir sobre as reflexões que faz na sua autobiografia sobre os fabulosos 20 anos: “It seems to me that the years between eighteen and twenty-eight are the hardest, psychologically. It’s then you realize this is make or break, you no longer have the excuse of youth, and it is time to become an adult — but you are not ready”.

E depois temos Annie Lennox, a poderosa Annie Lennox. Que fez 60 anos há uma semana, no dia de Natal.

"There's this youth culture that is really, really powerful and really, really strong, but what it does is it really discards people once they reach a certain age. I actually think that people are so powerful and interesting - women, especially - when they reach my age. We've got so much to say, but popular culture is so reductive that we just talk about whether we've got wrinkles, or whether we've put on weight or lost weight, or whether we've changed our hair style. I just find that so shallow".

Claro que Nora Ephron tem o seu ponto no ensaio I Feel Bad About My Neck: And Other Thoughts on Being a Woman.

Claro que quando vemos 40 anos de tempo a passar nos impressionamos.

Mas que enorme desperdício passarmos grande parte desse tempo a temer o tempo que passa.

Como diz João Miguel Tavares, 'cada cabelo branco grita "eu vivi" do alto das nossas cabeças'. Não é conversa fiada - é mesmo um apelo incondicional a que não desperdiçamos o nosso tempo a lamentar o outro tempo que passou.

Há uns anos, há já bastantes anos, quando entrevistei o Engº Belmiro de Azevedo pela primeira vez, resolvi, na frescura dos meus 20 e poucos anos, arriscar uma pergunta sobre a importância da idade. Deu-me uma resposta que ainda hoje repito em vários momentos: 'Sabe uma coisa, minha senhora? A idade é a coisa mais democrática do mundo. Passa igual por todos".

E ainda bem que assim é. 

Aproveitem as vossas idades e tenham um Feliz 2015!

 

 

 

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por sparks às 19:18


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