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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos



Domingo, 18.08.13

A Europa vista daqui - Destruímos isto juntos. Construímos isto juntos.

 

(escrito a 17 de agosto e publicado a 19 de agosto)

Chegámos ontem à República Checa, um dos quatro países que vamos visitar numa espécie de mini-interrail. Na preparação da viagem, percebemos que em três dos quatro países não usaríamos o euro como moeda oficial. Algo que na Europa não tenho memória há certamente mais de 10 anos, também porque os países que mais tenho visitado - à excepção da Grã-Bretanha - são indefectíveis da zona euro. E, como dizia um amigo, isto seria uma espécie de viagem não ao passado mas ao futuro da Europa, nesse tempo que alguns adivinham pós-euro. Chegámos ontem à República Checa onde se fala uma língua que não entendo e se paga cerveja a 30 coroas e senti-me completamente em casa. Na Europa. A Europa que hoje tanto discutimos está longe de ser um produto do euro ou sequer da uniformização linguística com o inglês que se fala no mundo inteiro. Não se trata de uma moeda nem de uma língua. A Europa que faz de nós europeus vive de locais que nos são familiares, de traços arquitectónicos que reconhecemos, de histórias da grande História que sabemos ser também nossas. Destruímos isto juntos. Construímos isto juntos. As tantas vezes que sobrevivermos à destruição-construção diz mais da nossa condição de europeus que todos os tratados que reis ou burocratas possam celebrar. Há uma condição europeia que nos faz ter orgulho da Praça de Cidade Velha em Praga ou da música que se ouve na em Klementin. A música, essa música que se ouve em toda a Praga, o jazz, o neo-punk-neo-metálico-neo-gótico, a performance moderna da Gay Prague ou o belíssimo recital de Bach, a música é Europa. Reconhecemo-nos uns aos outros, mesmo sem falarmos a mesma língua, ou transaccionarmos na mesma moeda. Reconhecemo-nos uns aos outros mesmo sendo espantosamente diferentes ou, por vezes, demasiadamente iguais.

À noite, já sem sentir os pés, procurámos sem êxito a Praça Venceslau, a da Revolução de Veludo, também a de Jan Palach. Uma praça que é tão nossa como o Largo do Carmo. A caminho do hotel, fazemos uma derradeira paragem em frente a um hotel que tem na montra a loba de Roma que amamenta os seus filhos, Rómulo e Remo. E lá fomos dormir sabendo que esta terra mágica, assustadora e ainda assim cheia de promessas é a nossa terra de passado e de futuro.

 

P.S. - Este post foi escrito na manhã de sábado, dia 17, mas devido a dificuldades com as comunicações não foi possível publicar de imediato. A Praça Venceslau foi uma das paragens obrigatórias em Praga e provavelmente um dos locais onde terá sido feita uma das fotos mais espantosas da viagem (pelo meu enteado, a quem terei de tratar por outra palavra já que esta é demasiado postiça quando se refere a alguém que faz genuinamente parte de nós e da nossa vida). Postiça é, ao invés, uma palavra que me ocorre para descrever o que senti hoje ao ver um dos palcos da Primavera de Praga e da Revolução de Veludo. Sim, o tempo passa. Sim, o mundo muda. Mas aquela não devia de ser apenas mais uma avenida europeia. E hoje foi apenas isso, mais uma avenida europeia. Sermos europeus (ou globais?) também é isto, mas, contrariamente ao que muitos defendem, é e tem sido a diferença que faz da Europa uma história única.

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por sparks às 10:36


2 comentários

De Anónimo a 27.08.2013 às 11:55

uma amiga usa a palavra step-kid em vez de enteado.

De sparks a 27.08.2013 às 23:35

Step-kid já bate aos pontos enteado : ) mas ainda assim, gostava mesmo de alguma palavra bem portuguesa. Obrigada pela visita!

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