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Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos
"Parem os hambúrgueres, parem as batatas fritas, façam os salários aumentar" foi o mote de uma manifestação que só é original porque vivemos em tempos estranhos. Em 60 cidades, trabalhadores de cadeias de fast food pararam em protesto com os baixos salários e as condições de trabalho. Ganham em média 7,5 dólares à hora (cerca de 5,6 euros), não trabalham a tempo inteiro, estão inibidos de receber gorjetas e muitos não têm qualquer complemento, como seguro de saúde.
Num indústria que, segundo estimativas da Sageworks citada na edição online da Time, factura hoje mais 12,1% que há um ano e que baixou a percentagem da facturação usada a pagar salários de 23,5% para 22,9%. Provavelmente, alguns ciosos dos maravilhosos números que o excel nos pode devolver mediante certas fórmulas (magia, pura magia) dirão que menos 0,6% não é nada. O que é bom, porque esses não invocarão então que uma margem de lucro de 4,6% (mais do dobro de 2009, em que era de 2.15) é pouco dinheiro liberto para melhorar a vida de quem trabalha no negócio.
O meu ponto é apenas este: não acredito em bons negócios com pessoas a viver mal. Não significa que não existam, que não sejam em muitos mercados a norma e que neste tempo de total submissão às regras financeiras não seja tentador para alguns defenderem projectos com base na premissa dos salários baixos. Ou até do salário nulo, um conceito extravagante * mas muito em voga. Parece que algumas empresas pagam em 'visibilidade', 'oportunidade', 'experiência' as contas de casa, do colégio, do supermercado dos seus trabalhadores.
Ao dizer que não acredito neste modelo, na realidade o que estou a querer dizer é que algures, no tempo, isto vai correr multo mal para todos.
Se uma empresa não factura o suficiente para pagar salários decentes, então não tem negócio. É melhor arranjar outro. Porque um negócio para ser sustentável tem de contemplar que as pessoas que o constroem todos os dias tenham uma vida decente.
Não é nada fácil e muitos trabalhadores estão também longe de perceber o quão difícil é montar uma empresa e deitar todas as noites a cabeça na almofada a pensar como se vai vender mais, trabalhar melhor e pagar salários no fim do mês.
Mas só nas empresas em que os dois lados são na realidade um mesmo lado as coisas correm bem. Vale para as empresas, vale para os países.
Ah, 5,6 euros por mês, a uma média de 8 horas/dia, dá um salário médio por 20 dias de trabalho de 896 euros. Afinal estes americanos são pobres e mal agradecidos. Há certos e determinados países onde se trabalha por metade disso.
(*) Uma amiga candidatou-se recentemente a uma oferta de trabalho e recebeu de volta um telefonema para ir a uma entrevista. No telefonema, o diálogo foi este:
- Bem, antes tenho de a informar que o trabalho não é remunerado.
- Não é remunerado?
- Pois, é um problema que temos actualmente...
Extravagante. É só isso.
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