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Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos
(a capa da Time de 20 de Maio de 2013 e uma versão alternativa, fake se quiserem, com o ponto de vista de quem é chamado de narcisista)
Alguns dos que por aqui passam sabem que sou mãe. Quem me conhece bem, passe ou não por aqui, sabe que para mim esse é o papel principal da minha vida. Faça o que fizer, nada será tão importante quanto criar os meus filhos, acompanhar os meus filhos, viver vida-fora com os meus filhos.
E, como qualquer mãe ou pai, cometo erros, sou dada a avalanches emocionais, perco muitas vezes a objectividade. A frase 'não é por ser meu filho' é das mais sinceramente aldrabonas que conheço. Claro que é por serem nossos filhos, e claro que acreditamos que a nossa objectividade não é esmagada pelo amor incondicional que lhes temos. Essa sinceridade mentirosa só não a conhece quem não ama os filhos da maneira que os filhos se amam.
Como não acredito que haja 'amor a mais', isto que hoje escrevo é sobre outra coisa.
Não é sobre os nossos filhos - é sobre nós. Os pais, os que foram pais, nos últimos 20 anos.
A maternidade e a paternidade mudou. Em muitas coisas, mudou para melhor.
Noutras, tenho dúvidas.
E, sendo mãe de filhos adolescentes que em alguns anos estarão no mercado de trabalho, estou a passar uma fase especialmente bipolar. Em que olho como o mundo do trabalho irá receber os meus filhos, mas também como os meus filhos irão entrar nesse mundo do trabalho.
Esta manhã ouvi uma conversa enquanto tomava o pequeno-almoço num café. Duas mães de garotos de 10 ou 11 anos discutiam à exaustão o teor das provas de exame. Sabiam de cor as perguntas, as composições, o que era suposto sair. Indignaram-se com o esforço excessivo colocado às crianças. Aquele tema não era para uma criança de 11 anos, jurava uma delas. Não discuto o teor dos exames - já passei por aí, passo por outros agora. Tenho fama cá por casa de ser a má da fita. 'Achas sempre que os professores têm razão'. Não é verdade. Não acho. O meu filho já foi gamado à grande num exame. A minha filha já perdeu muitos pontos por dar as respostas certas pelo caminho não convencional. E, claro, 'não é por serem meus filhos', mas já me aborreci muito com isso.
Mas detesto vitimizações.
E quando observo a entrada de algumas destas crianças-entretanto-jovens-entretanto-adultos no mundo profissional vejo demasiada vitimização.
Vitimização de jovem em empresa grande: ninguém me liga nenhuma, estou p'rá ali sozinho e sem qualquer acompanhamento.
Vitimização de jovem em pequena empresa: não me dão nenhum valor, nem qualquer oportunidade de mostrar que posso fazer a diferença.
Vitimização de jovem em startup: isto é uma desorganização, já não acredito no projecto, andam a fazer a não sei quantas coisas ao mesmo tempo.
Por aí fora.
Em casa, muitos pais indignam-se como quando eles tinham 11 anos e iam fazer exame de português.
"Não é por ser meu filho" mas aquela empresa não o merece.
As generalizações não são boas para ninguém. Há empresas que só exploram. Há empresas vesgas. Há empresas incapazes de formar qualquer pessoa, jovem ou menos jovem.
Mas, na maior parte dos casos, há empresas com a sua vida diária, o seu negócio a decorrer, e muitas prioridades a correr em várias pistas.
Que não páram porque o 'nosso' filho' entrou nos quadros. Que não o vêem como filho. Empresas para as quais é mais um - até provar que é diferente.
Esta nossa overdose de parentalidade não os ajuda em nada. Este mantra de és-tão-bom-tão-melhor-que-tudo faz com que muitos sejam incapazes de resistir à primeira contrariedade, ao primeiro não, à insuportável máxima 'do que tem de ser tem muita força'. Porque foram criados para não serem vencidos nunca, para não serem ignorados nunca, para não não-estarem em primeiro plano nunca.
É pena. Muitos deles são de facto muito bons. A maioria beneficou de uma educação e de uma disponibilidade - emocional e material - de pais e da família como nenhuma outra geração antes teve.
E porque lhes queremos bem, o melhor que podemos fazer é ... menos. E menos, ao fim de algum tempo, será mais.
next morning update:
Vale a pena ler este artigo. As coisas vistas pelos próprios. E esse facto consumado que é a adolescência prolongada.
We millennials lack a roadmap to adulthood
E vale a pena ler este. Porque os miúdos que cresceram tratados como 'rockstars and princesses' não estão condenados a serem uns preguiçosos imprestáveis.
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