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Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos
Ontem fui ao cinema.
"About time", em português "Dar tempo ao tempo", foi o filme escolhido.
Um filme que sai da mesma cabeça e do mesmo coração de quem filmou e escreveu Love Actually e que escreveu Four Weddings and a Funeral. Assim para ir directo à prateleira dos que são filmes de sempre para mim.
É um filme de uma sinceridade tão bonita que desafia qualquer cínico a soçobrar. É um filme sobre o que fazemos com as nossas vidas. É um filme sobre o que não fazemos com as nossas vidas.
Se pudessemos viajar no tempo, dentro da nossa própria história, não na grande História do mundo, o que mudaríamos? O que faríamos diferente? Que gaffes evitaríamos e que abraços não deixaríamos por dar? Não é lamechas. É inteligente, burguês, divertido. E é sincero, absolutamente verdadeiro, sem qualquer efeito especial que não as nossas emoções, no nosso próprio carrossel. O que não dissemos aos nossos pais, o que não queremos deixar de dizer aos nossos filhos, todas as vezes que dissemos 'amo-te' à pessoa que escolhemos e que nos escolheu. Lembra um outro filme, The Groundhog Day, com Bill Murray, mas é menos sarcástico e mais puro. E está muito, muito bem filmado, daquela forma que o cinema deve ser, quando um filme nos transporta durante 1 ou 2 horas para outro epicentro que não é o nosso, fazendo-nos acreditar que é o nosso.
Mais do que mudar o rumo dos acontecimentos, Richard Curtis, argumentista e realizador, diz-nos que viajar no tempo seria especialmente útil para apreciarmos cada dia, nem que para isso fosse preciso viver duas vezes cada dia - uma na pressa, com ansiedade, sem tempo para sentir, e outra, vivendo efectivamente os dias. Os bons, os maus, os assim-assim, sabendo que são únicos, irrepetíveis e que por alguma razão vamos um dia ter saudades de um desses momentos banais que deixámos passar sem dar atenção.
As nossas vidas são extraordinárias e banais e o grande segredo de tudo isto é não perder o espanto, a atenção ao pormenor e a doçura de todas as coisas que nos fazem falta sem nós sabermos disso.
P.S. - Só uma pequena nota. Este não é um filme de desafio intelectual nem de prémio em festival de cinema. Mas, o cinema pode ser muitas coisas e uma dessas coisas é de certeza provocar-nos com algumas banalidades (e coisas extraordinárias) que, em regra, estamos demasiado apressados para reparar.
Ou como diz o Daily Telegraph: It’s great to be challenged and needled and stung by cinema, but watching a film needn’t always be a battle; Time is on your side.
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