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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos


Sábado, 07.09.13

Oh Captain, my Captain, e os espertos?

Hoje revi O Clube dos Poetas Mortos, um filme que me marcou na idade própria para ser marcada por um filme como este. Aquela idade, algures entre o fim do liceu e os primeiros anos da dita maioridade. Vi-o de novo, há poucos anos, com o meu filho. E hoje. Os filmes, como os livros, a música, a pintura ou outra forma de arte 'falam' connosco. E falam de forma diferente, consoante a nossa vida, o nosso estado de espírito, a nossa generosidade. Hoje vi um Clube dos Poetas Mortos diferente dos outros. Hoje em vez de me emocionar com o Nuwanda, com o Neil e com o Todd, fixei-me numa personagem que sempre foi secundária, o Cameron, o puto ruivo de poupa que é o delator da cumplicidade estabelecidade entre o professor John Keating e a sua turma. Num grupo em estado de choque com a morte de um amigo - o personagem interpretado por Robert Sean Leonard, que muitos conhecem como o Wilson de Dr. House - há uma direcção de um colégio apostada em encontrar culpados. Não pode ser uma turma inteira (onde iriam buscar os rendimentos se expulsassem todos?). Tem de ser o professor. A má influência. A maçã podre.

Cameron é o gajo pragmático. O tipo que percebe logo o que está em causa. O que sabe bem o que tem de fazer para salvar a pele. Cameron é o miúdo, ainda é um míúdo, que interpela  Nuwanda, o bom rebelde (por cá seria mais esquerda caviar), e que diz a todos: 'se forem espertos, fazem como eu e salvam-se'. Se forem espertos. Há 20 anos, a mensagem deste filme era clara como água. Não queremos ser espertos. Queremos ser bons. Queremos ser autênticos. Queremos a nossa dignidade intacta. Hoje. Hoje não sei. Cameron será provavelmente alguém bem sucedido. Numa escala de sucesso estabelecida com base em evidências pragmáticas como dinheiro, status, poder. Cameron será provavelmente alguém que outros, melhores que ele, mais autênticos, mais dignos, não questionam. Alguém que outros, piores que ele, menos capazes que ele, ainda menos dignos veneram à espera da recompensa. À espera da sua vez.

E isto não nos incomoda. A nós, a geração que viu o Clube dos Poetas Mortos e que se reviu em valores que um dia nos pareceram universais. Como aquele ancestral, que dá sentido à vida dos homens e que simplesmente nos diz que o bem prevalecerá.

O que é o bem, como se faz o bem, o bem tem ou não um sentido universal, a discussão é imensa. Os melhores pensadores pensam nisso há milhares de anos. Nós vulgares homens (e mulheres) discutimos isto mesmo à mesa do café ou outra qualquer há milhares de anos.

Hoje parece-me urgente que esta discussão seja feita nas empresas, na praça pública, na nossa vida em conjunto. Que em nome do cinismo institucional do 'é assim que as coisas são' não nos esqueçamos que já tivemos 18 ou 20 anos e que quisemos bater-nos do lado dos bons. Que quem tem hoje 18 ou 20 anos não se afunde nem anestesie com ' não vale a pena'.

Um personagem secundário é sempre um personagem secundário, mesmo que lhe batam palmas. Vale nos filmes e na vida. 

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por sparks às 23:44


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