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Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos
Poucas coisas me fascinam tanto quanto entender a razão pelas as quais as pessoas fazem coisas.
Porque são tão defensivas, em certos contextos.
Porque são tão simpáticas e disponíveis, noutros.
Uma longa lista de porquês, alguns que se repetem e, de vez em quando, uns cromos novos na caderneta.
Um dos porquês recorrentes acontece-me sempre que leio coisas absolutamente privadas ou que apenas dizem respeito a nós próprios ou a meia dúzia dos nossos. E lá fico eu a cismar no porquê. Porqu~e tanto detalhe público? Porquê sequer tornar público?
Hoje enquanto pesquisava 'coisas' sobre formas de celebração, o sentido da celebração, as celebrações mais míticas, etc, tropeço num artigo que me levou a outro artigo e que ... voilá ... responde a este porquê. Os cientistas de Harvard - note-se, não é especulação nem conversa de café, são cientistas e de Harvard - descobriram que falar de nós próprios nos traz uma satisfação semelhante à que temos com a comida, o sexo ou o dinheiro.
Num estudo que com algum humor os autores veriam bem baptizado como 'a penny for your thoughts', os cientistas perceberam que mesmo oferecendo dinheiro aos participantes para falarem de outros temas que não deles próprios, a maioria abriria de bom grado mão de parte dos ganhos só ... para poder falar de si própria em vez da política do país, os resultados da Superbowl ou de um estudo como este.
Está explicado. É tão bom para nós como chocolate, um bónus generoso ou sexo. Pelo sim, pelo não, e em prol da harmonia das relações, é melhor não fazer no fim de uma conversa sobre nós aquela pergunta clássica sobre 'se foi tão bom para ti como para mim'.
Até breve
Da série as-coisas-que-eu-te dizia-se-não-fosse-muito-profissional
Cenário: Reunião de empresa (pode ser entre departamentos, desde que suficientemente formais, ou entre empresas)
'Ah, já repararam que alhos com tremoços e margarina não resulta muito bem?'
(resposta com ar de quem nunca pensou no tema metamorfoseado em ar de quem come alhos-tremoços-e-margarina todos os dias e não pensa noutra coisa há meses)
'Sim, claro, temos perfeita noção disso, mas se experimentarem margarina-alhos-e-tremoços o resultado pode ser surpreendente'
(aqui temos o momento clássico de vamos ver se os baralhamos ou se pelo menos ganhamos tempo)
'Mas margarina-alhos-e-tremoços é a mesma coisa que alhos com tremoços e margarina, só que em ordem invertida'
(damn it!)
'Pois, já discutimos isso internamente e estamos a avaliar as várias possibilidades'
'Já discutimos isso internamente' é a fórmula corporativa para dizer ' mete-te mas-é na tua vida que não tens nada a ver com isso' devidamente rematado com um 'achas que sou estúpido, ou quê?'
Os momentos de franco convívio e de saudável chapada (no sentido figurado, no sentido figurado) que se perdem à custa desta coisa de sermos corporativamente higienizados. Digo eu, que até tenho a felicidade de trabalhar, na maior parte do tempo, com as pessoas mais desbocadas do planeta. Tem sido (quase) sempre assim, se calhar é por isso que estranho.
Bom fim-de-semana
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