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Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos
Poucas coisas me fascinam tanto quanto entender a razão pelas as quais as pessoas fazem coisas.
Porque são tão defensivas, em certos contextos.
Porque são tão simpáticas e disponíveis, noutros.
Uma longa lista de porquês, alguns que se repetem e, de vez em quando, uns cromos novos na caderneta.
Um dos porquês recorrentes acontece-me sempre que leio coisas absolutamente privadas ou que apenas dizem respeito a nós próprios ou a meia dúzia dos nossos. E lá fico eu a cismar no porquê. Porqu~e tanto detalhe público? Porquê sequer tornar público?
Hoje enquanto pesquisava 'coisas' sobre formas de celebração, o sentido da celebração, as celebrações mais míticas, etc, tropeço num artigo que me levou a outro artigo e que ... voilá ... responde a este porquê. Os cientistas de Harvard - note-se, não é especulação nem conversa de café, são cientistas e de Harvard - descobriram que falar de nós próprios nos traz uma satisfação semelhante à que temos com a comida, o sexo ou o dinheiro.
Num estudo que com algum humor os autores veriam bem baptizado como 'a penny for your thoughts', os cientistas perceberam que mesmo oferecendo dinheiro aos participantes para falarem de outros temas que não deles próprios, a maioria abriria de bom grado mão de parte dos ganhos só ... para poder falar de si própria em vez da política do país, os resultados da Superbowl ou de um estudo como este.
Está explicado. É tão bom para nós como chocolate, um bónus generoso ou sexo. Pelo sim, pelo não, e em prol da harmonia das relações, é melhor não fazer no fim de uma conversa sobre nós aquela pergunta clássica sobre 'se foi tão bom para ti como para mim'.
Até breve
A história é contada no livro 'Irracional' Orin Brafman e Rom Brafman. Passa-se numa aula de negociação do professor Max Bazerman na Escola de Gestão de Harvard. No primeiro dia de aulas, Bazerman anuncia um jogo que parece bastante inócuo. "Agita no ar uma nota de 20 dólares e diz que a vai leiloar. Toda a gente é livre de fazer um lance: só há duas regras. A primeira é que os lances têm de subir sempre mais um dólar. A segunda regra é que quem ficar em segundo lugar no leilão tem de pagar o seu último lance mesmo que não ganhe nada ... Os lances são rápidos e intensos até chegarem ao nível entre os 12 e os 16 dólares. (…) sem se aperceberem os dois alunos com os lances mais altos estão presos. Um ofereceu 16 e outro 17; o que oferece 16 tem de oferecer 18 ou pagar os 16. É claro que o resto do grupo se desata a rir quando o lance ultrapassa os 20 dólares.
Mas a aversão à perda faz com que continuem."
Lembrei-me deste episódio hoje a propósito do cenário político que se vive em Portugal ao dia de hoje (muito importante referir, ao dia de hoje, já que as mudanças provam ser vertiginosas).
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