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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos


Quinta-feira, 01.01.15

A melhor idade da vida

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Photo: Maya Robinson and Photos by Getty Images /http://nymag.com/thecut

 

Nas últimas semanas de 2014 fui coleccionando uns quantos estudos e artigos sobre a idade.

Num desses artigos, The Power of 29: An Ode to Being Almost 30, a autora coloca-nos perante as angústias de ter 20 anos nos dias que correm. Ou talvez angústias de sempre, a julgar pela sábia observação da escritora Alice Munro, nos seus pródigos 83 anos, para quem a entrada nos 30 é 'aquela idade em que por vezes é difícil admitir que estamos a viver a nossa própria vida'. Continua a acontecer vida fora, diga-se de passagem.

Check. Ter 20 anos é difícil. (é escusado dizer que ser adolescente é ainda e sempre muito mais difícil)

Continuemos então. 

A melhor idade são os 35. Diz um estudo da seguradora Aviva, aqui analisado pelo jornal Guardian.

Uma idade 'perfeita' sobretudo para o escalão etário seguinte (45-54), mais até que os próprios, e menos que o escalão dos vintes ou dos sessentas, respectivamente mais entusiasmados com a sua própria idade ou com os saudosos quarentas. Mas uma idade igualmente cheia de problemas e ansiedades, aliás segundo um estudo prévio (!), a idade do início da crise da meia idade.

Check. ter 30 anos é (também) difícil.

Dos 40 para a frente todos sabemos que é suposto ser difícil. Dizem-nos (ameaçam-nos) que sim desde que temos 20, ou menos. Aos 40 aparecem rugas a valer, as articulações articulam-se menos, as responsabilidades são maiores que nunca, os filhos crescem e dão-nos o tipo de preocupações que 10 anos antes, quando andávamos a preparar lancheiras e a garantir horários de dormir e sopa à refeição, achávamos absolutamente menores. Os pais ficam mais velhos, doenças injustas e acidentes imbecis acontecem (sim, acontecem antes também, mas de repente vemos um padrão em tudo). E é suposto continuar difícil vida fora, 50, 60, 70, talvez com a redenção da senilidade aos 80 ou 90.

Check. Ter 40, 50, 60, 70 anos é difícil.

Cheguei assim, há uns meses, a uma entrevista com a fabulosa Helen Mirren por ocasião do anúncio do seu nome (e rosto) como cabeça de cartaz das campanhas da L'Oréal. Felizmente Mirren não faz parte do grupo do 'vamos-lá-dizer-o-que-toda-a-gente-está-à-espera'. E toda a gente está à espera que se queixe da discriminação das mulheres, nomeadamente no mundo carnal do cinema e do espectáculo. Toda a gente está espera que diga que envelhecer é uma merda e que para as mulheres é pior do que para os homens. O que, não deixando de ser verdade, está longe de ser toda a verdade. E é por isso que há esperança quando ouvimos Mirren, nos seus 69 anos, dizer que os 20 foram óptimos, os 30 espectaculares, os 40 fabulosos, os 50 extraordinários, os 60 fantásticos e que espera que os 70 não sejam nada menos que isso.

Ou reflectir sobre as reflexões que faz na sua autobiografia sobre os fabulosos 20 anos: “It seems to me that the years between eighteen and twenty-eight are the hardest, psychologically. It’s then you realize this is make or break, you no longer have the excuse of youth, and it is time to become an adult — but you are not ready”.

E depois temos Annie Lennox, a poderosa Annie Lennox. Que fez 60 anos há uma semana, no dia de Natal.

"There's this youth culture that is really, really powerful and really, really strong, but what it does is it really discards people once they reach a certain age. I actually think that people are so powerful and interesting - women, especially - when they reach my age. We've got so much to say, but popular culture is so reductive that we just talk about whether we've got wrinkles, or whether we've put on weight or lost weight, or whether we've changed our hair style. I just find that so shallow".

Claro que Nora Ephron tem o seu ponto no ensaio I Feel Bad About My Neck: And Other Thoughts on Being a Woman.

Claro que quando vemos 40 anos de tempo a passar nos impressionamos.

Mas que enorme desperdício passarmos grande parte desse tempo a temer o tempo que passa.

Como diz João Miguel Tavares, 'cada cabelo branco grita "eu vivi" do alto das nossas cabeças'. Não é conversa fiada - é mesmo um apelo incondicional a que não desperdiçamos o nosso tempo a lamentar o outro tempo que passou.

Há uns anos, há já bastantes anos, quando entrevistei o Engº Belmiro de Azevedo pela primeira vez, resolvi, na frescura dos meus 20 e poucos anos, arriscar uma pergunta sobre a importância da idade. Deu-me uma resposta que ainda hoje repito em vários momentos: 'Sabe uma coisa, minha senhora? A idade é a coisa mais democrática do mundo. Passa igual por todos".

E ainda bem que assim é. 

Aproveitem as vossas idades e tenham um Feliz 2015!

 

 

 

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por sparks às 19:18

Terça-feira, 11.03.14

Os anos. Envelhecer. Ageing. Parabéns a você, a todos nós

O x-acto foi uma das minhas prendas de 2013. Uma prenda muito antecipada, daquelas que se namora na loja da nossa imaginação. muito antes de ser nossa. E hoje, em dia de aniversário, em que tantas mensagens, gestos, simples palavras me fizeram sorrir e ser feliz só por ser quem sou, estar onde estou, ter os amigos e os amores que tenho, escrever aqui surgiu como a forma mais sincera de dizer obrigada. Obrigada por estarem, por continuarem, por serem todos quem são.

Foi também um bom pretexto para escrever sobre a idade, tema que anda a tentar-me há algumas semanas. Na madrugada do meu dia de aniversário, bem tarde na noite ou cedo na manhã, depende da contabilidade de tempo, revi os últimos 12 meses. Percebi a precisão com que me recordo deste ano, desde o dia 10 de março de 2013 - um dia extraordinário em que recuperei uma das tradições que melhor definem a arquitectura da minha vida - até ao 9 de março de 2014. Foi um ano difícil, por vezes áspero, um ano de grandes ensinamentos e - espero - de maiores aprendizagens, um ano de solidões imprevistas e de igualmente inesperadas cumplicidades. Foi um ano difícil e, no entanto, foi um ano bom. Os meus amigos, os amigos-amigos, já dizem por esta hora, lá está ela, lá está ela com aquela coisa do que se ganha versus o que se perde, lá está ela na sua contabilidade criativa de vida. Lá estou eu.

Mas o tema é a idade. Os anos que passam. O tempo.
Quando fiz 30 anos, não percebi essa coisa da 'idade'. Insensível que nem uma pedra, não dei por nada de relevante quando o calendário passou dos 20 aos 30. À época era já mãe de dois filhos pequenos e sentia-me mais completa que nunca. O conceito da 'idade' não teve qualquer espaço para medrar como dizem na aldeia. Na década seguinte, o tempo voou. Só recordo pensar na idade num dia exacto, um dia de sol como o de hoje, em que conduzia numa estrada pelas 3 da tarde. Lembro-me de parar num semáforo sob um céu azul crepitante e de pensar 'que espantoso como tudo é como sempre foi'. O que significava não me sinto diferente, não me vejo diferente, não me olham diferente. Tinha 37 anos nesse dia.

Fiz 40 e tudo continuou igual. Sem cabelos brancos que se registassem por aí além, sem grande alteração de peso, sem grande alteração de humor e, no entanto, com uma enorme mudança na minha vida.
Nos últimos cinco anos, as coisas mudaram. O meu ritmo mudou - acelerou. Os cabelos brancos lá apareceram. Os quilos também. Tenho de esfregar mais os olhos depois de uma noitada. Uso óculos para ler e para trabalhar. Os meus filhos são adolescentes - ou seja, sabem tudo. Há amigos que estão mais longe. Há amigos que estão mais perto. Estou mais obsessiva com a qualidade de vida. Tenho opiniões mais firmes em vários temas. Sou mais empenhada em meia dúzia de coisas que realmente me importam. As minhas análises de sangue dizem que estou na faixa etária anterior à minha faixa etária real. Praise the Lord, diz a médica e digo eu. Algumas amigas falam-me em envelhecer bem. Algumas amigas queixam-se que envelhecer é uma merda. Ouço mulheres mais novas e mulheres mais velhas dizer com ar condescendente que alguém 'até que está muito bem para aquela idade'. Como quem diz que aquele peixe apesar de estar no frigorífico tem mesmo um ar fresquinho. Por vezes falam de 'peixes' realmente mais frescos do que elas, sejam mais novas ou mais velhas, o que é uma verdadeira tragédia.
O meu filho pergunta-me se ficar mais velho é assim tão terrível como alguns dizem ('ficamos mesmo à rasca depois de três horas de um concerto a abrir?'). A minha filha diz-me que a partir de agora a menopausa pode chegar a qualquer altura e que isso deve ser óptimo ('estou desejosa de chegar a essa altura'). Dou comigo a irritar-me com a conversa de 'uma certa idade'. Dou comigo a irritar-me ainda mais com o mantra dos homens que ficam tão interessantes depois dos 50 e das mulheres, coitadas, que andam para aí a namorar miúdos com idade para serem filhos delas. Dou comigo a invejar mulheres de 60 anos.Tenho amigas - AMIGAS - que se tornaram as mulheres mais interessantes do mundo aos 40 ou aos 50. Tenho amigas que estão baças e sem brilho aos 40 ou aos 50. Pensando bem, também tenho amigas que são lindas e interessantes aos 20 e aos 30 e amigas que são baças e sem brilho aos 20 e aos 30.
Some guidance would be useful. Que raio de mundo doido é este?

É um mundo muito melhor do que aquele em que as nossas mães, avós, bisavós e demais antepassadas viveram. É um mundo muito pior e ainda assim muito melhor. Tudo é ampliado, todos estão certos e todos estão errados, todos têm opiniões veementes sobre isto e aquilo. Um mundo cheio de etiquetas que os media difundem amplamente sobre o que é e o que não é certo ou errado aos 30, 40, 50, 60, 70 , 80 ... Mas um mundo onde se vive mais e onde com aquela pontinha de sorte necessária podemos viver melhor. Um mundo onde já se aceita que as mulheres de 60 anos podem ser desejáveis e não apenas toleradas e um mundo onde as mulheres de 40 ainda têm de pedir desculpa por ainda disputarem rapazes mais novos e olhares de cobiça. É um mundo onde a vida não acaba aos 30, vá aos 32, a idade mítica do 'pleno' a partir da qual era sempre a descer. Um mundo onde o nosso estilo de vida, os filmes que vemos, os livros que lemos, a música que ouvimos, os sítios onde vamos, o que partilhamos, aquilo em que acreditamos nos define muito mais do que o código de barras da data de nascimento. Um mundo onde posso ter por amiga uma miúda de 25 anos que podia ser minha filha e uma mulher de 72 que podia ser minha mãe. Um mundo indiscutivelmente melhor, mesmo com todos os escaravelhos, osgas e seres menos dignos que também por cá andam. Fazem parte do equilíbrio do ecossistema.

Na língua inglesa, em que como diz a canção, soa sempre melhor, a palavra ageing substituiu a expressão getting older.
Não estamos a envelhecer mas sim a ganhar idade.Não estamos a perder juventude, estamos a ganhar anos de vida.
É uma perspectiva, sobretudo porque a idade é a coisa mais temporária que temos.
Estamos todos em processo de ageing, todos os dias, desde que nascemos. O que é uma óptima notícia, porque a alternativa era lamentável.
Vamos 'idadecendo'.
Nesta era em que podemos ambicionar mais anos pela frente, em que temos mais opções do que nunca, que não nos falte a imaginação para rechear os nossos dias dessa energia vital que é gostarmos de cá andar e de fazer qualquer coisa de útil, de bom, de belo.

E podemos deixar de ter conversas parvas sobre 'aquela idade' aos 30, 40, 50, 60 e por aí fora.
Obrigada pelo vosso carinho no dia de hoje, como vêem só me fez bem, faz sempre bem.
Até breve








Como diz um dos meus amigos do coração, acreditar é possuir antes de ter.

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por sparks às 02:10


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