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Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos
Falha minha, ainda não vi qualquer episódio da série britânica "The Thick of It". Até que, neste fim de semana, o Pedro Mexia (avé Pedro Mexia) escreveu sobre esta mesma série no Expresso, num texto extraordinário intitulado 'A coisa pública'. Ao ler o texto e ao reconhecer cada parágrafo em outros tantos pedaços de realidade-real com que já me cruzei por aqui mesmo, terras de Portugal, foi totalmente irresistível vasculhar à procura do protagonista Malcolm e seus pares.
Encontrei, entre muitos outros, este vídeo numa peça da BBC -The Thick Of It: When life imitates sweary art. É majestoso. Compulsivamente cínico e verdadeiro. Tanto que é quase injusto sugerir-vos uma passagem em particular, ao minuto 1'20 quando os spin doctors, os magos da comunicação, discutem nomes para um futuro banco.
Mas antes leiam o Pedro Mexia. O texto não está online para todos, apenas para assinantes. Para quem não é assinante ou não terá acesso ao Expresso desta semana, deixo um excerto que diz quase tudo:
"(...) Malcolm é um homem furibundo, de quem todos têm medo, ‘an evil scotish guy’, ‘a bad Gandalf’, ‘um Malchiavelli’, ou, singelamente, ‘uma fornalha de merda’. É evidente que não há política sem retórica, especialmente em democracia, mas esta retórica é fétida, ainda que por vezes brilhante, e os mecanismos não são exactamente ‘democráticos’, mas mediáticos. É a percepção pública que interessa ao director de comunicações, não a verdade ou as políticas seguidas, muito menos as pessoas envolvidas. “Stuff happens”, como dizia Rumsfeld, e a função do spin doctor é mudar a natureza das ‘coisas’ que ‘acontecem’, quer dizer, a sua configuração mediática.
“Yes Minister” levava-nos a imaginar que a política democrática é de uma complexidade florentina ou mesmo bizantina, que é um jogo civilizado até à perversidade.
“The Thick of It” mostra a política executada por alarves. Gente infantil, insensível, frustrada, imbecil, que mente, ofende, trapaceia. Não são más pessoas, mas também não são boas. Vivem em ‘crise’ permanente, com gafes, fiascos, traições. E é sempre preciso encontrar culpados, em geral falsos culpados. "
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