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X-Acto

Os x e os actos e algumas coisas de cortar os pulsos


Sexta-feira, 30.08.13

"Parem os hambúrgueres, parem as batatas fritas, façam os salários aumentar"

 

 

"Parem os hambúrgueres, parem as batatas fritas, façam os salários aumentar" foi o mote de uma manifestação que só é original porque vivemos em tempos estranhos. Em 60 cidades, trabalhadores de cadeias de fast food pararam em protesto com os baixos salários e as condições de trabalho. Ganham em média 7,5 dólares à hora (cerca de 5,6 euros), não trabalham a tempo inteiro, estão inibidos de receber gorjetas e muitos não têm qualquer complemento, como seguro de saúde.

Num indústria que, segundo estimativas da Sageworks citada na edição online da Time, factura hoje mais 12,1% que há um ano e que baixou a percentagem da facturação usada a pagar salários de 23,5% para 22,9%. Provavelmente, alguns ciosos dos maravilhosos números que o excel nos pode devolver mediante certas fórmulas (magia, pura magia) dirão que menos 0,6% não é nada. O que é bom, porque esses não invocarão então que uma margem de lucro de 4,6% (mais do dobro de 2009, em que era de 2.15) é pouco dinheiro liberto para melhorar a vida de quem trabalha no negócio.

 

O meu ponto é apenas este: não acredito em bons negócios com pessoas a viver mal. Não significa que não existam, que não sejam em muitos mercados a norma e que neste tempo de total submissão às regras financeiras não seja tentador para alguns defenderem projectos com base na premissa dos salários baixos. Ou até do salário nulo, um conceito extravagante * mas muito em voga. Parece que algumas empresas pagam em 'visibilidade', 'oportunidade', 'experiência' as contas de casa, do colégio, do supermercado dos seus trabalhadores.

Ao dizer que não acredito neste modelo, na realidade o que estou a querer dizer é que algures, no tempo, isto vai correr multo mal para todos.

Se uma empresa não factura o suficiente para pagar salários decentes, então não tem negócio. É melhor arranjar outro. Porque um negócio para ser sustentável tem de contemplar que as pessoas que o constroem todos os dias tenham uma vida decente.

Não é nada fácil e muitos trabalhadores estão também longe de perceber o quão difícil é montar uma empresa e deitar todas as noites a cabeça na almofada a pensar como se vai vender mais, trabalhar melhor e pagar salários no fim do mês.

Mas só nas empresas em que os dois lados são na realidade um mesmo lado as coisas correm bem. Vale para as empresas, vale para os países.

Ah, 5,6 euros por mês, a uma média de 8 horas/dia, dá um salário médio por 20 dias de trabalho de 896 euros. Afinal estes americanos são pobres e mal agradecidos. Há certos e determinados países onde se trabalha por metade disso.

 

(*) Uma amiga candidatou-se recentemente a uma oferta de trabalho e recebeu de volta um telefonema para ir a uma entrevista. No telefonema, o diálogo foi este:

- Bem, antes tenho de a informar que o trabalho não é remunerado.
- Não é remunerado?
- Pois, é um problema que temos actualmente...

Extravagante. É só isso.

 

 

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por sparks às 12:54

Quarta-feira, 14.08.13

Frases épicas -1

 

"Vou dar-te uma estimativa que não pode ser interpretada como um prazo"

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por sparks às 09:01

Segunda-feira, 29.07.13

Alegrias e tristezas do trabalho

 

Hoje de manhã tive uma discussão feia com uma colega da qual gosto. Somos muito diferentes - em alguns casos diria diametralmente opostas - mas temos uma espantosa capacidade de nos entendermos em determinados territórios. Ela dirá de mim que tenho a mania de ser 'subtil', eu direi que ela é 'hard selling', os detractores de uma dirão que a inteligência requer (alguma) subtileza, os detractores de outra dirão que os tempos são de resultados rápidos. Todos terão alguma razão. Mas aquilo que importa nesta história é outra coisa.

 

Na semana passada, li sobre uma espécie, 'o profissional enraivecido'. Sempre em fúria, sempre em contra-relógio, sempre em estado de 'cobrador de fraque' face a um mundo incompetente para as suas ambições e provas dadas. Assustei-me deveras com o retrato. Este homem (ou mulher) está sempre à beira da crise cardíaca. Pior, coloca os outros à beira da crise cardíaca. Medo. Passou-me pela mente todos os profissionais enraivecidos que conheço. Passou-me pela mente as vezes em que fui uma profissional enraivecida (sim, também já fui).

 

O profissional enraivecido - desculpem gestores medalhados - traz pouco ou nada àqueles que lhe pagam o ordenado, àqueles que chefia. àqueles que negoceia. Faz muita espuma, como diz o meu espírito santo de orelha. Mas enxuta a espuma, resta muito pouco. Sobram décibeis a mais, uma gesticulação feroz e cansativa, uma expressão facial amarrotada ... e pouco mais. O profissional enraivecido é um cansaço. 

Mas, surpresa, o profissional enraivecido é uma espécie apreciada e até documentada nos perfis de recrutamento. Porque é agressivo. Porque é determinado. Porque não contemporiza com dias maus, sentimentos à flor da pele, ideias que não são números. 

 

Passamos dois terços do nosso dia a trabalhar. Estamos mais tempo 'na empresa' do que em casa, em família, ou simplesmente sós, connosco próprios. O 'trabalho' não pode ser um campo de batalha. O 'trabalho' tem de ser um espaço de criação, de cultivo, de resolução de problemas. Gastar o nosso tempo - e o dos outros - a esgrimir argumentos que deveriam estar no divã da psicanálise, na caixa do ansiolítico, no saco de boxe ou, se tudo tivesse corrido pelo melhor, lá atrás, na nossa infância e adolescência, é um enorme desperdício de vida.

 

A minha discussão de hoje de manhã acabou num amigável 'desculpa lá aquilo' ainda a tarde não tinha chegado ao fim. Um 'desculpa lá aquilo' simultâneo, mútuo, bem cimentado com um sorriso e uma careta daquelas que as miúdas fazem bem e até um aperto de mão 'à homem'. Ambas temos uma vida ali, conjunta, em que nos debatemos por objectivos comuns. E por isso ambas sabemos que, na realidade, se uma ganhar, ganham as duas. Ah, e ambas temos vida fora daquele sítio onde nos encontramos todos os dias para trabalhar num mesmo projecto. Parece-me que isso deve ajudar muito.

E agora vou ler mais umas páginas do meu livro de cabeceira. Alain de Botton e "As alegrias e tristezas do trabalho". Nem de propósito.

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por sparks às 21:46


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